sábado, 26 de junho de 2021

O MERCADO DA CIDADE ALTA

 

A Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte cita o aluguel de uma casa que servia de mercado da Cidade Alta já em 1870 (COLEÇÃO DE LEIS PROVÍNCIAS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1870, p.40).

Em 1889 foi publicado no jornal A República o edital de concorrência pública para a conclusão das obras do mercado público de Natal (A REPÚBLICA, 31/12/1889, p.4).

Em 16/04/1890 foi aberto um crédito na quantia de 4 contos de réis da verba dos socorros públicos do ministério do interior, para o pagamento da 2ª prestação a que tinha direito o cidadão Antônio Minervino de Moura Soares, como contratante das obras da casa do mercado público da capital (A REPÚBLICA, 16/04/1890, p.4).

No relatório do governador Adolfo Afonso da Silva Gordo o mesmo escreveu que: “mandei continuar as obras do mercado desta capital, em que já se gastaram dezenas de contos de réis, e que se iam deteriorando com as chuvas completamente” (A REPÚBLICA, 01/07/1890, p.1).

Em 26/07/1890 foi nomeada uma  comissão composta por Augusto Carlos de Melo L’Eraistre, procurador fiscal da tesouraria da fazenda e Jonh Morant, engenheiro chefe da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz, para examinar e declarar se as obras do mercado público da capital foram ou não executadas de conformidade com o seu contrato e respectivo orçamento, a fim de ter lugar a entrega do mesmo mercado à referida tesouraria pelo contratante Antônio Minervino de Moura Soares (A REPÚBLICA, 26/07/1890, p.1).

Em 13/10/1890 foi autorizado o recebimento provisoriamente o prédio do mercado público de Natal com as alterações que, em face do contrato, notou nas obras do mesmo a comissão encarregada de examinar (A REPÚBLICA, 13/10/1890, p.1).

Em 23/11/1890 foi nomeada uma comissão composto por Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, 1º tenente Afrodizio Fernandes Barros e Angelo Roseli, para se encarregar da conclusão das obras do mercado público da capital potiguar, ficando a referida comissão autorizada a nomear um administrador para dirigir os respectivos trabalhos (A REPÚBLICA, 23/11/1890, p.1).

A 05/02/1891 seriam abertas as propostas a fim de ser contratada a conclusão das obras do mercado público de Natal, de acordo com o orçamento do município (A REPÚBLICA, 01/02/1891, p.4).

Não tendo a comissão encarregada da conclusão das obras do mercado público da capital, encetado os trabalhos da casa do referido mercado dentro do prazo, a intendência resolveu abrir nova concorrência, a fim de que em hasta pública fosse contratada com melhores vantagens oferecesse a conclusão das referidas obras (A REPÚBLICA, 26/02/1891, p.1).

Em 21/01/1892 foi realizado leilão público dos quartos do mercado de Natal por quem mais desse e maior lance oferecesse, sob a base de 10$000 réis mensais por cada um dos quartos (A REPÚBLICA, 16/01/1892, p.4).

A inauguração

         A inauguração do mercado público de Natal ocorreu em 07/02/1892.

    Conforme o jornal A República em presença da Junta Governativa, de representantes de todas as classes sociais e crescida massa popular, o vice-presidente da Intendência declarou aberto ao comércio e concorrência  pública o mercado cuja utilidade e importância salientou concluindo por felicitar o povo riograndense e a Junta Governativa , cujo presidente saudou a Intendência municipal e ao povo natalense, lavrando-se de tudo uma ata que foi assinada pelos membros da Intendência e da Junta Governativa, pelo major comandante do 34º Batalhão de Infantaria e oficiais, médicos, militares, oficiais de marinha, representantes da magistratura federal e local, comandante da policia, inspetores da tesouraria e do Tesouro e os demais cidadãos presentes( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).

        Seguiu-se um copo d’água, durante o qual trocaram-se diversos brindes, cada um dos quais solenizado pela banda de música do 34º Batalhão de Infantaria, que estava postada no salão do edifício.

      Boa e aprazível foi aquela festa que terminou por volta das 14h00.A noite houve música e iluminação no edifício e grande concorrência de famílias das mais distintas da capital.

      Até que enfim desencantou-se o mercado que felizmente estava aberto a concorrência da população natalense e dotado o município de um melhoramento transcendental, de há muito reclamado e longamente esperado por todos que se interessavam pelo bem comum, escreveu ainda o referido jornal ( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).

    O edifício tinha proporções adaptadas a comportar as mercadorias que ofereciam diariamente ao mercado.


Aspecto da primeira arquitetura do mercado da Cidade Alta, início do séc. XX.


Nesta imagem o mercado aparece já com as feições diferentes após reformas.



Aspectos do mercado da Cidade Alta.

Nesta foto aparecem os prédios do antigo Atheneu e o mercado da Cidade Alta, ambos com arquiteturas bem parecidas, sendo o Atheneu o prédio em destaque na foto a direita, já o mercado aparece atrás dos soldados em formação.

         Mesmo tendo sido inaugurado o mercado se ressentia de alguns defeitos de condições higiênicas que poderiam facilmente ser remediados abrindo-se válvulas a entrada de maior quantidade de ar “feito isto, estará muito bom” escreveu o citado jornal ( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).

O primeiro incêndio 

Na noite de 5 para 6 de março de 1893 houve no mercado público de Natal um começo de incêndio, que danificou completamente um dos quartos do estabelecimento. O fogo só foi descoberto depois de fechado o mercado (A REPÚBLICA, 11/03/1893, p.3).Seria um presságio do triste final que viria a ter o mercado público da Cidade Alta anos depois?

Na mensagem enviada ao Congresso Estadual em 1900 escreveu o governador  Alberto Maranhão que a reconstrução do mercado estava também tornando-se cada dia mais urgente, atentas às más condições daquele edifício, que, pela completa ausência  de higiene, era considerado um iminente perigo para a salubridade pública, podendo torna-se um foco deletério da maior gravidade caso tivesse o infortúnio de visitar a Capital potiguar a peste (MENSAGEM..., 1900, p.9).

Foi então que levar a efeito essa medida, cuja realização requeria um dispêndio superior às forças atuais do erário da Intendência, que segundo o governador Alberto Maranhão, ele foi forçado a autorizar que as obras fossem custeadas pelo Tesouro,  obrigando-se a Intendência a indenizar o Estado (quando pudesse).

   Na mensagem a Assembleia Legislativa em 25/03/1904 o governador Alberto Maranhão escreveu que durante os  4 anos do seu mandato foi reedificado em ótimas condições higiênicas o mercado público de Natal (MENSAGEM..., 1904, p.12).

Consta nos relatórios do governador Alberto Maranhão que o mesmo reconstruiu o mercado público da capital em condições de torná-lo digno de uma capital adiantada (A REPÚBLICA, 24/03/1902, p.1).

A ampliação do mercado da Cidade Alta

Até meados da década de 1930 a cidade de Natal ressentia-se de mercados públicos condignos, o mercado da Cidade Alta seria o único e suficiente mercado público de Natal.

 Tendo sido em 1937 iniciados pelo prefeito Gentil Ferreira a ampliação do mercado da Cidade Alta e a construção do mercado da Ribeira.

O novo e grande mercado da Cidade Alta à Av. Rio Branco, foi construído com uma área de 4.200 m², obra que recomendava qualquer cidade a época.

A inauguração

         O prefeito Gentil Ferreira marcou a inauguração do novo mercado da Cidade Alta para 01/05/1937,  que de acordo com o Diário de Pernambuco: “há mais de seis anos que não se realiza neste Estado, inauguração de prédio público, nas condições do atual edifício, cujo ato vai ser revestido de grande solenidade” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO,14/04/1937,p.12).

         O novo mercado abrangia uma área de 4.200m² compreendidos entre a Av. rio Branco, rua Auta de Souza e praça João Tibúrcio e do Mercado.Na área interna seriam alocados cerca de 250 comerciantes permanentes, existindo uma área para feira diária e instalações de frigorifico

         A inauguração contou com  a presença do governado do Estado, do prefeito da Capital, outras autoridades, representantes da imprensa e grande número de pessoas.

Sobre a inauguração do novo mercado da Cidade Alta escreveu o jornal A Ordem que o prédio recém-inaugurado era verdadeiramente uma obra notável que se construía em Natal, com as próprias rendas municipais, sem auxílios estranhos nem apelo a empréstimos (A ORDEM, 01/06/1937, p.1).Poucas eram as capitais que se podiam orgulhar de possuir um mercado como o da Cidade Alta em Natal dizia ainda o mesmo jornal.

A frente das obras de construção do novo mercado da Cidade Alta estava o engenheiro Otávio Tavares, diretor de obras da prefeitura.

O prédio foi construído com 54 metros de frente por 81 metros de fundo.A parte concluída e a ser posta à disposição do público abrangia uma área de 2.185 m², ou seja, 2 1/5 vezes maior que o antigo mercado.

A área interna estava dividida em ruas e avenidas, sendo 28 locais para carne verde, 22 para carnes secas, queijos e vísceras, 10 para cafés e pequenos restaurantes, 6 para aves, 70 para cereais, 12 para miudezas, 37 para frutas e verduras e 2 grandes locais para feiras livres.

O serviço de saneamento era subterrâneo, onde se achavam instalados  9 aparelhos, 2 mictórios e 2 pias para asseio.

O edifício era coberto com telhas belgas, de amianto. O piso era de paralelépidos, reajuntado e sobre base de concreto. Nos locais de peixe e carne o piso era de mosaico branco e os balcões e colunas de marmorito. Os portões era de ferro, de enrolar, e davam passagem a automóveis e caminhões.

Todas as seções eram providas de instalações de água, sendo que nos locais para a venda de peixe foram postas 18 torneiras.

         Foram instaladas 24 lâmpadas para a iluminação interna. O custo total da parte inaugurada custou a prefeitura 393.660$000 (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 08/06/1937, p.3).



Aspectos do mercado da Cidade Alta após a ampliação de 1937.

Aspectos internos do mercado da Cidade Alta no dia da sua inauguração. Foto: diário de noticias,12/06/1937,p.18.

Aspectos internos do mercado da Cidade Alta no dia da sua inauguração. Foto: diário de noticias,12/06/1937,p.18.

Aspectos do bairro da Cidade Alta onde é possível ver o mercado público.

Aspectos internos do mercado da Cidade Alta no dia da sua inauguração. Foto: diário de noticias,12/06/1937,p.18.

Aspectos internos do mercado da Cidade Alta no dia da sua inauguração. Foto: diário de noticias,12/06/1937,p.18.

Aspectos internos do mercado da Cidade Alta no dia da sua inauguração. Foto: diário de noticias,12/06/1937,p.18.


O fim

    O mercado da Cidade Alta teve um final trágico em 1967 quando foi devorado tal qual a hecatombe que se abateu sou a cidade de Roma mandada ser incendiada pelo doido do imperador Nero. As lendas urbanas e a boas línguas de Natal juram de pé junto com  a mão na bíblia e pelo sangue vertido da Cruz que o incêndio foi criminoso e proposital. Mas isso é assunto para outra postagem, por hora a imagem a baixo mostra o estado em que ficou o mercado da Cidade Alta após o fatídico sinistro que reduziu ao pó aquele que era um dos maiores prédios públicos da Capital potiguar.




 

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