A
freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ceará-Mirim se deu por transferência
da sede da freguesia de São Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres cuja matriz
estava na Vila de Estremoz.
Por sua vez a A Vila de Estremoz foi criada
pelo Alvará de 06 de junho de 1755 e ereta no dia 03/05/1760 pelo desembargador
Ouvidor Geral Bernardo Coelho da Gama Vasco. Em virtude da lei provincial nº
370 de 30 de julho de 1858 a sede municipal foi transferida de
Estremoz para a então povoação de Boca da Mata que passou no ato da transferência de Vila de Ceará-Mirim.
Estremoz para a então povoação de Boca da Mata que passou no ato da transferência de Vila de Ceará-Mirim.
A
freguesia continuou, porém, na Vila de Estremoz por algum tempo. A Vila de
Ceará-Mirim não tinha capela quando ocorreu a transferência da sede municipal, no
entanto o vigário contrariando ordens do bispado de Olinda passou a residir em
Ceará-Mirim e não na matriz que era Estremoz.
A antiga matriz de Estremoz
de capela a matriz
A
pedra fundamental da construção da capela de Nossa Senhora da Conceição que
mais tarde viria a ser a imponente igreja matriz de Ceará-Mirim foi lançada
pelo frei Serafim de Catania em 21/02/1858 (A ORDEM, 21/02/1949, p.4).
Ao
ser transferida a sede municipal a povoação de Boca da Mata não tinha capela. O
frei Serafim de Catania viu na oportunidade de suas missões difundir a devoção
amplamente divulgada pelos frades capuchinhos da Imaculada Conceição,cujo o
dogma havia sido promulgado 4 anos antes em 1854.
Foi
assim igualmente na mesma época em Uruá, atual Canguaretama onde o frei Serafim
também em missão incentivou a construção de uma capela a Nossa Senhora da
Conceição que é o orago atual daquela cidade).
Em
1860 no relatório do então presidente da província se dizia que: “Ao procurador
da irmandade de Nossa Senhora da Conceição, José Joaquim de Castro Barroca, mandei
que se entregasse a quantia de 1:000$000 rs para auxilio da continuação da obra
dessa matriz, que se acha com os alicerces feitos e parte da capela-mor.A
crescente população daquela vila, e freguesia exige a construção desse templo,
que alias, tem já merecido a atenção dos eleitos da província”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 29/03/1860, p.2).
Pelo
exposto a cima fica esclarecido que até aquele ano de 1860 a capela em
construção tinha apenas parte da capela-mor e os alicerces concluídos.
No relatório de 1861 o presidente da
província dizia que na florescente vila de Ceará-Mirim da Freguesia de Estremoz
havia uma capela mui pequena onde celebravam-se os atos religiosos.
Observando isso, quando ali esteve o
presidente nomeou uma comissão de 8 membros, incluindo neste número o
respectivo pároco, a fim de promover o andamento da obra da matriz, com as
somas concedidas pelo cofre público ou pela piedade dos particulares.
Em 02/07/1861 o presidente da província
recomendou novamente a conveniência da aplicação da quantia de 774$080 réis,
que ainda restava da que fora concedida pelos seus antecessores para a obra da
capela-mor e avaliando a Câmara Municipal em réis 10:000$000,a despesa
necessária para ficar aquele templo em estado de prestar-se ao serviço de
celebração dos ofícios religiosos.
No
entanto, a igreja matriz situada na povoação de Estremoz, a 3 léguas de
distancia da Vila de Ceará-Mirim, necessitava de pequenos reparos urgentes no
teto e frontispício, além de outras obras mais dispendiosas, tais como o ladrilho
no corredor esquerdo, a colocação do sino e a construção de uma escada para
subir ao campanário.
O
pároco noticiou ao presidente da província que outrora serviu de convento aos
jesuítas naquela povoação, continuava em progressiva deterioração. Determinou o
presidente ao subdelegado que tivesse sob sua guarda as chaves do edifício e
que o visitasse frequentemente para não só conservá-lo no maior asseio
possível, como preservá-lo dos estragados do cupim, solicitou ao governo os
meios precisos para qualquer reparo indispensável.
Ao
engenheiro deu ordem para examinar o estado da igreja e do convento, afim de
apresentar os orçamentos, em separado, dos melhoramentos e consertos mais
necessários para evitar maior aumento na ruína daqueles edifícios.(DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 26/11/1861,p.1).
Do
relatório do presidente da província Leão Veloso, em 1862 se dizia: ”quer S.
Exc., ver a obra começada da igreja matriz daquela vila, para cuja ereção o
povo do lugar está animado de grande fervor e entusiasmo” (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 29/07/1862, p.3).
Ainda
segundo o mesmo relatório o presidente da província que esteve na Vila de
Ceará-Mirim viu que as obras da matriz constavam das paredes da capela-mor e
dos alicerces do corpo da igreja. O presidente estava persuadido que se
levassem a termo as obras a igreja seria superior a nova matriz da vila de
Acari que se dizia ser naquele período a maior da província.
Por
decreto de 03/09/1964 do Bispado de Olinda foi apresentado o padre Targino
Paulino de Carvalho na igreja paroquial de Nossa Senhora dos Prazeres da vila
do Ceará-Mirim. (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 09/09/1864, p.1).Percebe-se que a
igreja matriz ainda era a de Estremoz devido ao titulo da invocação da Virgem
na igreja onde o referido pároco foi apresentado.Não poderia ser diferente,
todo pároco deve se apresentar e tomar posse na igreja matriz.
Um oficio enviado ao vigário de Estremoz expedido da
cúria do bispado em Olinda estranhava que o pároco tendo sido colado vigário de
Estremoz no mês de dezembro, ainda até aquele momento não tinha ido fixar
residência junto a sua matriz, como era do seu dever, e como orientavam as
Constituições Diocesanas, tendo o mesmo conservando-se no lugar denominado Boca
da Mata, distante da igreja matriz 18 léguas e isto com grave prejuízo da
regular administração do pasto espiritual.
Ordenava o Bispo que ao receber o oficio se muda-se
o vigário para a sua residência junto da matriz, isto é em Estremoz, e
comunicasse o quanto antes o cumprimento da ordem expedida (JORNAL DE RECIFE ,17/06/1865,p.1).
Já
em 12/07/1865 o jornal Diário de Pernambuco exibia um oficio expedido da cúria
do bispado em Olinda atendendo devido a Vila de Ceará-Mirim ser o maior povoado
da freguesia e atendendo igualmente a conveniência que havia do pároco
inspecionar de perto a igreja que ali se estava edificando, permitiu-se que o
referido pároco continuasse residindo em Ceará-Mirim para não resultar em
prejuízo a pronta distribuição do pasto espiritual, primeiro e mais rigoroso
dever dos párocos e com a condição de
que em Estremoz, sede da freguesia, residisse constantemente o coadjutor, e se
celebrasse sempre a missa conventual nos domingos e dias santificados.(DIÁRIO
DE PERNAMBUCO, 12/07/1865,p.1).
Em 1866 mais duas loterias foram
votadas no congresso nacional em beneficio das obras da matriz de Ceará-Mirim,
22/05/1870 mais quatro loterias e duas outras loterias em 12/03/1872.
Em 1870 exercia a função de vigário na
freguesia de Ceará-Mirim o padre José Alexandre Gomes de Melo.Conforme o jornal
Diário de Pernambuco “todos sabem que o
Ver. Vigário chegando nesta vila, foi o seu primeiro cuidado promover os meios
de levar a efeito a importante obra da matriz respectiva”( DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 28/03/1870, p.3).Ainda de acordo com o mesmo
jornal quando o frei Vitale esteve na freguesia para pregar as santas missões
já havia muito material e mais de 5:000 em cofre unicamente devido ao empenho
do referido vigário de Ceará-Mirim.
Em
1871 foram votadas no Senado Imperial quatro loterias em beneficio das obras da
matriz do Ceará-Mirim.
Em
11/061872 o jornal do Recife publicava que “dito ao Vigário de Nossa Senhora
dos Prazeres do Ceará-Mirim.Pelo seu oficio de 13 do corrente, fico inteirado
de haver V.Rvmª no dia 11 do mesmo mês, tomado posse da freguesia de Nossa
Senhora dos Prazeres de Ceará-Mirim, na qual acaba de ser colado”. (JORNAL DE
RECIFE, 12/06/1865, p1). Como visto a confusão permanecia no quesito jurídico
da freguesia. O nome permanece como orago da antiga Vila de Estremoz, porém
como se fosse localizada em Ceará-Mirim.
Percebe-se
também que a capela de Ceará-Mirim ainda não havia sido concluída, pois
estivesse a posse do vigário seria nela já que o mesmo residia na vila de
Ceará-Mirim e não “junto a sua matriz” como diz o oficio.Já havia se passados
14 anos desde o lançamento da pedra fundamental da capela de Ceará-Mirim (Boca
da Mata) ela ainda não estava em condições de se realizar os atos religiosos.
Em
1874 duas loterias foram concedidas para as obras da igreja matriz de São
Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres de Estremoz da vila de Ceará-Mirim, ou
seja, a matriz ainda continuava sendo em Estremoz. (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 01/09/1874,
p.1), já no ano seguinte de 1875 se dizia que foram concedidas duas loterias
para a conclusão das obras da igreja matriz do Ceará-Mirim ( DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 28/07/1875, p.2).
Manoel
Ferreira Nobre disse em sua obra Breve História da Provincia do Rio Grande do
Norte em 1877 sobre Ceará-Mirim “tem elegante casaria, ornada de um templo que
serve de Matriz” (NOBRE, 1877, p.190).
Mais
adiante diz: a sede desta freguesia ainda se conserva na antiga Vila de
Estremoz, porém, em virtude de permissão do Bispo Diocesano, contida em
Portaria do mês de maio de 1875, o respectivo pároco reside na Vila do Ceará
Mirim.
Assistiram
à cerimônia religiosa da primeira pedra, os Revms Luiz da Fonseca Silva,
Bartolomeu da Rocha Fagundes, João Xavier Dantas, João Coelho de Oliveira,
Francisco de Paula Soares da Câmara e Fr. Serafim de Catânia. É um elegante
edifício, ainda em construção. Está fundado sobre uma eminência da vila. Deste
ponto, goza-se o panorama mais pitoresco.
Para
o Sul e para o Norte, a vista do espectador, depois de dominar a vila, repousa
sobre o imenso vale do Ceará-Mirim (NOBRE, 1877, p.194).
Em
1882 esteve em visita pastoral a freguesia de Ceará-Mirim o bispo de Olinda Dom
José Barros. No dia 15/08/1882 as 09h00 o digno prelado olindense levado sob
pálio e processionalmente, fez sua solene entrada na matriz da freguesia, onde
foi cantado um Te Deum em ação de graças, fazendo o discurso elegíaco de
boas-vindas o padre Esteves Viana (DIARIO DE PERNAMBUCO, 24/08/1882, p.2).
Igreja matriz de Ceará-Mirim
A primeira menção a Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição
Em
16/05/1883 foi nomeado o padre Frederico Augusto Raposo da Câmara para a
freguesia de Ceará-Mirim. Em oficio enviado pelo bispo de Olinda dando ciência
de nomeação ao referido padre aparece pela primeira vez em documento oficial do
bispado o termo “Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Ceará-Mirim”.
Vale
a pena ler o texto original do referido oficio.
Palácio
da Soledade, 16 de maio de 1883 - Rvm Sr. Nesta da ta nomeamos a V. Rvm.
Vigário da freguesia de N. S. da Conceição do Ceará-Mirim.
Não
foi sem muito pesar que nos privamos da dedicada companhia de V. Rvma., que no
cargo de nosso secretário particular se tem portado com tanta diligência,
lealdade e zelo, de modo a merecer não só a nossa gratidão, mas a nossa estima
e particular amizade.
O
interesse que ligamos a importante paróquia de Ceará-Mirim, a urgentíssima
necessidade de concluir o templo que ai existe começado, nos aconselharam que
nos privássemos dos bons serviços de V. Rvma., para mandá-lo reger aquela
porção de nossos queridos filhos, certo de que V. Rvma., levará para o meio
deles o zelo e dedicação, sem outro interesse que a salvação das almas e saberá
dirigir a boa vontade dos povos para dar a paróquia uma bela matriz, condigna
da fé dos habitantes do notável - Ceará-Mirim- tão grato a nossa recordação.
Aceite
V. Rvma., os nossos agradecimentos sinceros pelos serviços que nos prestou, e
receba a segurança de nossa paternal confiança e perfeita amizade e vá
reanimando em Nosso Senhor Jesus Cristo, aqueles povos que confiamos ao seu
zelo sacerdotal.
Deus
guarde V.Rvma. +José, bispo diocesano. Ilmo.,
Rvma. Sr. Padre Frederico Augusto Raposo da Câmara, vigário da freguesia e N.S.
da Conceição do Ceará-Mirim.(DIÁRIO DE PERNAMBUCO,17/05/1883,p.3).
Do
texto acima do citado oficio ficam duas noticias importantes para a memória
histórica da paróquia de Ceará-Mirim.
A primeira com já dito é menção pela primeira
vez do nome da paróquia contando a padroeira atual de Ceará-Mirim, Nossa
Senhora da Conceição no cabeçalho e no fechamento do documento enviado ao padre
Frederico Augusto Raposo da Câmara, atestando assim que aquela época já havia
sido de fato homologado a oficialização do orago da matriz da paróquia.
A
segunda é o fato da matriz ainda está em obras e como diz o texto havia da
parte do bispo “a urgentíssima necessidade de concluir o templo que ai existe
começado”. O referido bispo havia feito visita pastoral no ano anterior o qual
ao entrar na matriz verificou a necessidade de conclusão de suas obras.
Outro
fato interessante são os elogios que o bispo de Olinda se digna a efetuar em
favor da paróquia: “a importante paróquia de Ceará-Mirim” cuja recordação da
visita pastoral deixou boas e gratas
impressões do povo e da paróquia.
Por
fim a nomeação do padre Frederico Raposo da Câmara teria a urgente finalidade
de concluir a matriz “para dar a paróquia uma bela matriz, condigna da fé dos
habitantes do notável - Ceará-Mirim- tão grato a nossa recordação”.
Dessa
forma Ceará-Mirim já havia ofuscado o brilho do que fora a antiga matriz de
Estremoz, reduzida a simples capela filia da paróquia por aquela época.
Em
1892 Manoel Leopoldo Raposo da Câmara fez doação para as obras da matriz de
Ceará-Mirim segundo o jornal Rio Grande do Norte (08/05/1892, p.3).
Em
01/12/1896 ocorreu a vista pastoral de Dom Adauto de Miranda Henrique, bispo da
Paraíba, da qual estava sob jurisdição eclesiástica o estado do Rio Grande do
Norte.Conforme o jornal A União pelas 07h00 revestido de capa magna, fez o bispo
solene entrada no majestoso templo da Igreja Matriz, e declarou aberta sua
Pastoral Visita naquela parte caríssima de sua Diocese (A UNIÃO, 29/01/1896, p.1).
Ainda
de acordo com o referido jornal Ceará-Mirim era um dos templos de maiores
proporções do Bispado e mesmo do Brasil, ressentindo-se, no entanto, da
necessidade de um trabalho complementar para poder deste modo patentear-se com
a glória d e um povo, admiravelmente trabalhador e enaltecimento de uma cidade
de tão agradável perspectiva.
A
Revista da Semana cita a subida do sino na matriz de Ceará-Mirim numa edição de
28/07/1901, p.6.
Em
13/06/1906 a matriz foi visitada pelo então presidente eleito Afonso Pena que
subiu numa das torres da igreja e contemplo o vale do Ceará-Mirim.
Em
1907 a Pia União das Filhas de Maria concluiu a campanha de angariar donativos
cuja a finalidade era para a compra do órgão destinado a matriz da cidade.A
diretora agradecia as pessoas que se dignaram concorrer para este fim e
nomeadamente ao Sr. Urbano Hermilo de Melo que bondosamente se encarregou da
coleta em Natal e a senhorita Maria Emilia Duarte em Taipu.
A
quantia arrecada foi de 1:123$000.O vigário de Ceará-Mirim, o cônego José
Paulino Duarte mandou buscar um órgão em Paris conforme acabava de comunicar. Com
aquela quantia também seria aplicada na aquisição de uma imagem de Santa Inês,
estandarte, ornamentos de altar e demais objetos de que precisava a Pia União.
(A REPÚBLICA, 28/02/1907, p.3).
Na
próxima postagem falaremos a respeito da remodelação da igreja matriz
empreendida pelo cônego Celso Cicco.
Fontes:
A ORDEM, 1949
A REPÚBLICA, 1907
A UNIÃO, 1896
ANAIS
DO SENADO. Secretaria especial de editoração e publicações - subsecretaria de
anais do senado federal. Transcrição.
NOBRE.Ferreira.Breve
notícia sobre a província do Rio grande do Norte.Baseada nas leis, informações
e fatos consignados na história antiga e moderna por Manoel NOBRE, Ferreira. 2ª
Ed.1971. Editora Pongetti. Rio de Janeiro.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1860, 1861, 1862, 1865, 1870, 1882, 1883
DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 1864, 1874, 1875
JORNAL DE RECIFE , 1865
REVISTA DA SEMANA, 1901.
SENADO IMPERIAL. Ano de 1873. Livro 4.
Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário