O cronista social Veríssimo de Melo
lançou em sua coluna do jornal O Poti uma enquete com a seguinte pergunta:
Quais as 7 maravilhas da Cidade do Natal? A enquete teve 21 respostas publicadas
entre os dias 29/11/1955 e 28/01/1956 (com um hiato entre os dias 26/12/1955 e
07/01/1956).
Segundo o referido cronista
“naturalmente, Natal tem muitas maravilhas, no bom sentido do vocábulo, porque,
no sentido pejorativo, tem inúmeras.Eu quero saber quais as sete maravilhas
verdadeiras”.
Ficou
curioso pra saber quem foi que respondeu a enquete e quais foram as 7
maravilhas por eles listadas da capital potiguar? Não matarei o dileto leitor
de curiosidade, ei-las:
Quais
as sete maravilhas da cidade do natal?
Foi
o próprio Veríssimo de Melo quem iniciou as responder a enquete (O POTI,
29/11/1955, p.7):
1. A
ponta do Pinto em Areia Preta, o local mais fotografado da cidade.
2. A
enseada de Ponta Negra, numa tarde de sol.
3. A torre da Igreja de Santo Antonio.
4. O
rio Potengi visto ao crepúsculo.
5. As
estátuas dos garotos na entrada do Grupo Escolar Augusto Severo.
6. O
Forte dos Reis Magos, apesar do abandono em que se encontra.
7. Cascudinho[1].
O escritor Câmara Cascudo foi o segundo
a responder a enquete. Eis a sua lista (O POTI, 30/11/1955, p.7):
1. Minha
casa brasileira, “com Certeza”.
2. A
praia de Areia Preta.
3. A
enseada de Ponta Negra.
4.
Crepúsculo no Potengi.
5. Luar
na areia.
6. O
Forte do Reis Magos.
7. Manhã
de sol.
Segundo
Veríssimo de Meloa lista foi feita num
encontro casual onde o escritor Luis da Câmara Cascudo, sem titubear fez sua
lista das 7 maravilhas de Natal.Pelo menos 3 das 7 maravilhas coincidiram com
as de Veríssimo de Melo.
A
senhorita Clarisse Palma, poetisa, fundadora do Clube dos Sete, figura de
destaque social e artístico da cidade respondeu da seguinte forma (O POTI, 02/12/1955,
p.7):
1.
O céu, mais azul do que das outras terras[2].
2.
O clima.
3.
Os rochedos de Areia Preta.
4.
A praia da Redinha.
5.
O novo farol em Mãe Luiza[3].
6.
O crepúsculo no Potengi.
7.
A ponta da praia de Mãe Luiza, com aquela casinha branca rodeada de coqueiros e
a qual dediquei uma poesia, há anos, quando ali havia apenas uma palhoça.
Em 04/12/1955 foi a vez do pintor
Newton Navarro responder (O POTI, 04/12/1955,p.15):
1. A
casa da minha avó, a av. Rio Branco, n. 697.
2. Os
versos de Otoniel Meneses.
3. Uma
véspera de Reis, a noitinha, no alto da Limpa.
4.
Os morros do Tirol.
6. O
Potengi e a Casa de Cascudo, que são a mesma coisa[4].
7. O
trio Albmar, Neto e modestamente este seu criado...
Bruno
Pereira, magistrado, jornalista dos mais combativos e brilhantes da terra,
membro da Academia Norteriograndense de Letras fez a sua lista (O POTI, 06/12/1955,p.7):
1.A
Escola Doméstica, monumento imperecível a memória de Henrique Castriciano.
2. O
céu, nos promontórios da estação das chuvas[5].
3. Os
morros numerosos do Tirol, na paz elisea das tardes[6].
4. A
subida do rio até Macaíba, à luz das estrelas[7].
5. O
panorama da cidade visto de avião.
6. A
partida das jangadas dos pescadores para o alto mar, aos primeiros albores da
manhã.
7. O
Forte dos Reis, inerme sentinela de um passado heroico e sempre vivo.
O
juiz de direito Eutiquiano Reis fez a seguinte lista (O POTI, 07/12/1955, p.7):
1.
Vida e paixão do Atlântico, na Circular[8].
2. A
Fortaleza.
3.A
Escola Doméstica.
4.A
“Yemanjá”.
5.L’heure
Du Berger, no “Grande Ponto”.
6.tugúrio
da Jaguarari.
7.Os
silêncios noturnos da cidade.
Em
08/12/1955 Romulo Wanderley, jornalista, advogado, professor respondeu (O
POTI,08/12/1955,p.7):
1.O
mar.
2.A
Fortaleza dos Reis Magos.
3.As
peixadas e caraguejadas.
4. Newton,
Albmar e outros cidadãos do mesmo padrão[9].
5. As
noites de luar na praia de Areia Preta.
6. O
rio Potengi.
7..................................................................................[10].
O advogado, professor e jornalista João
Medeiros Filho respondeu (O POTI, 10/12/1955, p.7):
1. O
clima do Tirol.
2. O
caju da Redinha, do sitio de Baroncio Guerra.
3. O
carnaval no Aeroclube.
4. A
vista do mar da balaustrada de Petropólis.
5. A
vida provinciana e amiga,s em a batalha do Rio de Janeiro.
6.
Conviver com Veríssimo de Melo, Câmara Cascudo e outros bichos...
7. O
estado de sitio, sem execução.
O fiscal de consumo do Recife, Potiguar
Fernandes, num encontro na av. Tavares de Lyra, foi pedido que respondesse a
enquete sobre as sete maravilhas da cidade do Natal, ao que ele adiantou:
“- Pois não. A minha resposta é esta” (O
POTI, 11/12/1955, p.7):
1. Luis
da Câmara Cascudo.
2. Luis
da Câmara Cascudo.
3. Luis
da Câmara Cascudo.
4. Luis
da Câmara Cascudo.
5. Luis
da Câmara Cascudo.
6. Luis
da Câmara Cascudo.
7. Luis
da Câmara Cascudo.
O
contista José Pinto Junior apresentou a seguinte lista (O POTI, 13/12/1955, p.7):
1. A
radiodifusora ultrassônica de Luiz Romão.
2. O
conjunto residencial para operários da Estada de Ferro Sampaio Correia.
3. O
Matadouro Público Municipal (igual ao de Chicago).
4. A
inspetoria de Transito de Natal.
5. O
serviço de transporte coletivos, inclusive o de bondes da Força e Luz.
6. O
relógio da Estação Central da Sampaio Correia (de noite trabalha com um só
ponteiro luminoso e faz todos o serviço).Entretanto, o relógio da balaustrada
da Junqueira Aires é pior.
7. O
serviço de Assistência a Mendicância.
A lista de José Pinto Junior era uma
critica feroz as coisas da cidade a época.
O professor de português José do Patrocínio
fez essa lista.(O POTI, 17/12/1955, p.7):
1. As
tertúlias do Bar Cisne, mas com os amigos Dr. João Medeiros Filho, Vivi, prof.
Saturnino de Paiva, Melquiades e com outros que, as vezes, se nos apresentam a
nós.
2. A
candidata pela Academia Potiguar de Línguas ao Concurso de Miss 1955, Srta.
Nina Carvalho[11].
3. Uma
reunião do clube dos Inocentes, na casa de Cascudo.
4. As
festas dos concludentes neste mês de dezembro.
5. O
Instituto de Educação, tendo como diretores Protássio Melo e Celestino
Pimentel.
6. Palestrar
com o crítico literário Antonio Pinto.
7. De
apreciar as grandes realizações do Governo Silvio Pedroza no setor educacional.
Em 18/12/1955 o escritor João Alfredo
Cortez (Conde de Miramonte[12]), autor de Cinza de
Coivara, apresentou a seguinte lista. (O POTI, 18/12/1955, p.7):
1. O
teatro Carlos Gomes, que é uma joia arquitetônica de rara beleza[13].
2. O
soberbo conjunto de edifícios e luxuriante com arborização da Base Naval, que
ameniza o calor tropical.Entretanto, houve alguém que quase derrubou todas as
arvores de Natal, deixando-a caustica pela inclemência do sol a favor dos “pés
de pau”.
3.A
Avenida Circular, quando está repleta de donas boas.
4. A
Praça Pio X, antes de ser construída a “atual Catedral, que veio inutilizar o
último logradouro público que ainda nos restava”.
5. A
Srta. Maria José Varela, Miss Rio Grande do Norte.
6. O
Castelo Miramonte (modéstia a parte) que foi construído apenas para os amigos
dedicados assinarem seus nomes na torre.
7. Imprópria
a resposta até a sétima geração.
A lista do professor José Saturnino de
Paiva foi esta (O POTI, 21/12/1955, p.7):
1. Entregar
dois cruzeiros ao condutor de auto-lotação e ouvir-lhe perguntar: Tem
quinhentos réis ai?
2. Perguntar
a empregada: O café está pronto?
3. Não
senhor. A água não chegou.
4.
Ir ao cinema, dia de série. Sentar-se junto de um analfabeto que pagou o
ingresso de um camarada para lesse as legendas do filme, a aguentar a
chateação, firme, até o fim.
5. Pedir
uma cerveja bem gelada. Ouvir o garçom dizer não temos Bhrama, porém posso
arranjar ali defronte, a 22 cruzeiros cada “tubo”.
6. Ouvir
censuras de semianalfabeto a jornalistas e escritores, porque, contrariam esta
ou aquela regrinha de uma gramática insulsa e indigesta.
7. Saber
que existe alguém que se delicia lendo, pela manhã,as reportagens e “enquetes”
de Veríssimo de Melo, em “ O Poti”.
Com exceção da sétima, todas eram
coisas curiosas que existiam na cidade.
O teatrólogo Sandoval Wanderely fez a
sua lista na antevéspera do Natal (O POTI, 23/12/1955, p.7):
1. A
Maternidade Januario Cicco.
2. O
Teatro Carlos Gomes.
3.
A Escola Doméstica.
4. A
Base Naval.
5. A
Base Aérea de Parnamirim.
6. O
Instituto de Educação.
7.
A Av. Presidente Café Filho (Circular).
O diretor do Instituto de Educação,
Gurmecindo Saraiva fez a sua lista na véspera de Natal (O POTI, 24/12/1955, p.7):
1. Parnamirim[14].
2. A
devoção do Padre João Maria[15].
3. O
Instituto de Música.
4. A
Fortaleza dos Reis Magos.
5. A
Avenida Circular.
6. A
Ponte de Igapó.
7. Miguel
Ferreira Neto.
No
dia de Natal o cronista social Paulo Macedo apresentou sua lista das Sete
Maravilhas de Natal (O POTI, 25/12/1955,p.7):
1. A
garota Ana Tereza, “beleza, simpatia e distinção”, filha do Sr. Durval Paiva.
2. A
reportagem social de “O Poti”.
3. A
presença do Prof. Antonio Pinto de Medeiros no setor educacional da cidade.
4. A
palestra da Srta. Nina Carvalho, Miss Praia 1955.
5. A
Praia de Ponta Negra.
6. O
Palácio do Rádio.
7. A
água.
Em 08/01/1956 o tenente Luiz Viana,
potiguar de Taipu, residente no Rio de Janeiro e segundo Verisismo de Melo, jornalista,
poeta, filosofo a Krishamurt, apolítico, assim respondeu a enquete (O POTI, 08/01/1955,
p.7):
1. O
clima.
2. Areia
Preta.
3. Praia
do Meio.
4. O Potengi.
5. A
Redinha.
6. Ponta
Negra.
7. A
mulher natalense.
Otoniel Meneses, o príncipe dos poetas
natalenses, assim fez sua lista (O POTI, 13/01/1955,p.7):
1. O
Albergue Noturno.
2. As
4 palmeiras do Colégio dos Salesianos.
3. O
Potengi, visto do patamar da Igreja do
Rosário.
4. O
instituto de Educação.
5. A
escola gratuita Raquel Figner, no bairro do Carrasco.
6.O
ABC F.C.
7.
O bisturi de José Tavares.
O último a responder a enquete foi o
cônego Jorge O’Grady de Paiva (O POTI, 28/01/1956,p.7):
1. Forte
dos Reis Magos.
2. Palácio
do Governo.
3.
Traçado da Cidade Alta.
4. Ponte
de Igapó.
5. Parnamirim.
6. Farol
da praia do Pinto.
7. Escola
Doméstica.
Segundo
o citado sacerdote era digno de menção o questionário sobre as 7 maravilhas da
Cidade, “em que a diversidade de opiniões revelava quanto havia, realmente, de
singular e admirável em nossa capital”.
E vós, ó pobre mortal leitor, que não
foi consultado pelo finado jornal O Poti se quiser fazer sua lista das 7
maravilhas de Natal nesse humilde blog esteja a vontade para o fazer nos
comentários.
[1] O
Escritor Luis da Câmara Cascudo. Cascudinho era seu apelido.
[2]
Exagero poético.
[3]
Que havia sido inaugurado no ano anterior.
[4]
Bajulação poeticamente exagerada.
[5]
Hoje em dia as chuvas na capital potiguar são prenuncio de calamidade na
cidade.
[6] Se
refere as dunas que chegavam te o atual Parque das Dunas, a época eram os
limites naturais inabitados da capital.
[7] De
fato paisagem edílica.
[8]
Avenida Circular, que começa nas
proximidades do atual prédio da Caixa Econômica
até o Baldo onde se descortina uma panorâmica do rio Potengi.
[9]
Artistas, intelectuais, etc.
[10]
Não elencou a sétima maravilha deixando a mesma provavelmente para apreciação
do leitor do jornal.
[11]
Naquele tempo concursos de misses eram coisas sérias.
[12] O
titulo era meramente figurativo.
[13]
Atual Alberto Maranhão.
[14] A
época era distrito de Natal.
[15]
Hoje nem tanto.
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