Este
ano de 2019 marca o centenário da paróquia de São Pedro no Alecrim que foi
criada em 17/08/1919 por decreto diocesano de Dom Antonio dos Santos Cabral, o
2º bispo de Natal, tendo sido a primeira paróquia criada por ele e a segunda a
ser criada na Capital Potiguar.
O
território da nova paróquia foi desmembrado da paróquia Nossa Senhora da
Apresentação até então a única paróquia de Natal.
Desde
sua criação a paróquia de São Pedro é regida pelos padres missionários da Sagrada
Família, congregação de origem alemã.
O bairro do Alecrim foi oficialmente
criado em 23/10/1911, no entanto desde o inicio do século XIX deu-se as
primeiras ocupações no espaço que viria ser o bairro.Foi o 4º bairro criado na
capital potiguar.Nasceu a sombra do protetor da Igreja Católica.
Foi o mons. Alfredo Pegado Cortez,
então governador do Bispado quem colocou a pedra fundamental da igreja de São
Pedro do Alecrim.
Primórdios
A história da paróquia pode ser contada
por meio dos escritos do padre Fernando Nolte: “era o Alecrim um subúrbio quase
inabitado, quando alguns principais moradores lembraram a ereção de uma igreja
para a celebração do culto católico. Auxiliados pelos católicos residentes na
cidade e apoiado pelas autoridade eclesiástica, os alecrinenses católicos
constituíram em comissão e convidaram o Exmo e Rvmo Sr. Dom Adauto de Miranda
Henriques, Bispo Diocesano,para benzer a primeira pedra da dita igreja.Este
atendeu ao convite, dignando-se vir até esta cidade, laçando a primeira pedra
da dita igreja, conforme se verifica da ata lavrada pelo Tabelião Público...” (DIÁRIO
DE NATAL, 16/08/1950, p.6).
A primeira capela foi construída no
ângulo formado pela rua Coronel Estevam e Praça Pedro Américo (Dom Pedro) no
ano de 1910 surgindo depos a a igreja de São Pedro que deu lugar a atual.
A comissão promotora da construção da
capela era composta do capitão Antonio Carvalho de Albuquerque Maranhão, Alferes
Joaquim Andrade de Araújo e José Vicente ferreira, sob a presidência do Bispo
Diocesano, do Adauto de Miranda Henriques, que na solenidade de lançamento da
pedra fundamental,usou da palavra dizendo “estimulo os promotores de louvável
empresa a fim de que não trepidem um só momento, já que de tão boa vontade
tomaram sobre os seus ombros o pesado fardo, no desempenho de que a recompensa
será certa e infalível desde que trate de propagar o reino de Deus sobre a
Terra”. (DIÁRIO DE NATAL, 16/08/1950, p.6).
A
construção da capela foi iniciada e com pouco tempo de construção, verificou-se
a insuficiência da resistência da base do edificio causando deste modo algum
clamor, que dia a dia aumentava.Em consequência
dos serviços mal orientados, a obra ficou paralisada certo espaço de
tempo e o povo se mostrava desanimado com a construção do templo chegando alguns
a murmurarem: “jamais o Alecrim possuirá uma igreja”.A própria comissão de
construção tornara-se inerte. O desanimo apoderava-se de todos... (DIÁRIO DE
NATAL, 16/08/1950, p.6).
Uma nova comissão
A
construção da igreja de São Pedro ia pouco a pouco caindo no esquecimento
popular.As moças e rapazes que passavam na praça Pedro Américo olhavam e não
divisavam que na confluência de duas ruas frente ao passeio público estavam as
paredes cobertas de lodo e seu interior cheio de sujeiras e que as palavras do Bispo
haviam se perdido no espaço.
A
iniciativa de demolir as paredes coube ao dr. Antonio Soares, que propôs a
autoridade eclesiástica, nova comissão de construção da igreja de São Pedro.
Foi
iniciado uma nova construção que teve orientação do padre Fernando Nolte,
missionário da Sagrada Familia, que tinha chegado a Natal com o intuito de
catequizar e ajudar no apostolado do bairro que crescia na capital potiguar.
No
ato de lançamento da “segunda“ pedra fundamental estavam presentes o governador
Joaquim Ferreira Chaves, Antonio Soares, secretário, Aristoteles Costa, Capitão
Antonio Cavalcanti de Albuquerque Maranhão, Alfredo Manso Maciel, Candido
Henrique de Medeiros, Felizardo Toscano de Brito, Silvino Bezerra Neto, Antonio
Basilio, Miguel Leandro (tabelião) e muitos outros nomes de destaque da época. (DIÁRIO
DE NATAL, 16/08/1950, p.6).
O
cônego Estevam José Dantas, morador do bairro, foi o primeiro incentivador da
construção do templo, uma vez que surgia a necessidade dos moradores ouvirem a
missa aos domingos e dias santos. Nos dias de preceitos os cultos religiosos
era realizados na residência do cônego Estevam ou na capela do cemitério do
Alecrim, obrigando o sacerdote erigir em sua própria residência uma capelinha
pois, muitos dos habitantes do bairro se negavam a assistir a missa no
cemitério.A capela provisória foi colocada sob a proteção de Saõ Geraldo,
protetor provisório do bairro, enquanto se construía a igreja definitiva dedica
a São Pedro.
Em
julho de 1918, um ano e sete meses após o lançamento da 1ª pedra, Dom Antonio
dos Santos Cabral, bispo diocesano, em companhia do jesuíta padre Pacheco,
esteve em visita pastoral ao bairro e “distribuiu largamente ao povo os
socorros e as consolações da santa religião”.Com essa visita pastoral começou a
nova fase na vida religiosa do Alecrim.Criou-se o Centro do Apostolado da
Oração que congregava os fieis numa espécie de associção e tendo por obrigação
reunir-se toda a 1ª sexta-feira de cada mês.Seu primeiro orientador, o padre
Fernando também foi encarregado por essa época de dirigir aquela porção do seu
rebanho, dando jurisdição semi-paroquial e desempenhando as funções do seu
ministério na capela de São Geraldo que em breve se tornaria insuficiente par
ao crescente número de fiéis que pressurosos iam procurar cumprir os seus
deveres de piedade.
O
projeto de igreja primitiva foi encomendado pelo dr. Antonio Soares ao
engenheiro Herculano Ramos.Esse projeto porém, não foi aprovado pela comissão,
mas sim utilizado para a construção de uma capela no bairro do Tirol (igreja de
Santa Teresinha).
A
criação da paróquia
A
planta aprovada pela comissão de construção de 1918 foi elaborada pelo
agrimensor Luiz Ceciliano de França, servindo como base para a construção da
nova igreja. Uma, já havia sido demolida na fase do “respardo” e sobre ela
começaram os alicerces da atual igreja.
Esse
trabalho não se fez conforme a planta, mas com certas variações.Depois de
estudar a planta,o padre Fernando Nolte viu as circunstancias que haviam em
seguir o dito projeto e de acordo com o bispo diocesano, levando em conta os
trabalhos de alicerces já feitos, remodelou a planta radicalmente, e assim
começou em fins de setembro de 1918 a construção conforme a nova planta,
deixando esse legado o padre Fernando Nolde, no livro de Tombo da igreja de São
Pedro.
É
oportuno a transcrição deixada pelo vigário da paróquia do Alecrim, o padre
Fernando Nolde:
Não
se pode descrever essa fase dos primeiros trabalhos, sem mencionar a
generosidade do Bispo Diocesano e do governador do Estado, dr. Joaquim Ferreira
Chaves, que foram os braços-fortes da construção, como também dos membros da
Conferencia de São Pedro que muito se prestaram para angariar donativos no
bairro do Alecrim.Assim, amparados pela autoridade eclesiástica e civil e
auxiliado pelo povo do bairro e da cidade empenhei-me na construção de uma
PARTE da igreja, a qual se completou em principio de maio de 1919.
No
dia 04/05/919, as 08h00, o monsenhor Alfredo Pegado, acolitado pelos padres
Fernando Nolde e Elesbão Gurgel procedeu a benção da primeira parte da igreja
que tinha sido erigida.Achavam-se presentes os representantes do governador do
Estado, desembargador Horácio Barreto e o capitão Luis Júlio, muitas pessoas
gradas e grande número de fiéis.
Terminado
o ato religioso o mons. Alfredo Pegado fez discurso congratulando-se com o povo
pelo grande melhoramento e concitou o povo a continuar e auxiliar o zeloso
padre Fernando Nolde que tanto se dedicava a construção desse templo.
No
dia seguinte ao da benção, foram reiniciados os trabalhos.Por inciativa de
Perceval Caldas foi aberta uma subscrição para compra do sino que foi bento e
colocado no dia 29/06/1919, festa do Padroeiro do Alecrim.
Quando
o Bispo Diocesano dom Antonio dos Santos Cabral, voltou para uma visita
pastoral viu o grande impulso que tinha tomado o bairro e no encerramento de
sua visita prometeu a criação da paróquia, a segunda da capital.
No
dia 17/08/1919 na Praça Pedro Américo (atual Dom Pedro II) ao som da Banda dos
Escoteiros do Alecrim, juntavam-se os alunos do Grupo Escolar Frei Miguelinho,
religiosos e fiéis para receberem solenemente o Bispo Diocesano e o Vigário
Geral.Os sinos repicavam alegremente.Grande, e não se poderia imaginar menos, a
satisfação do povo por ver coroados os seus esforços e por ter aonde mais
dignamente assistir a celebração dos santos mistérios da religião.
Na
voz vibrante de monsenhor Alfredo Pegado, leu-se o seguinte: Havemos por bem,
usando de um poder da nossa jurisdição ordinária, dividir em duas a dita
paróquia de Nossa Senhora da Apresentação desmembrando dela o território de
outra paróquia com sua sede na nova igreja de São Pedro, em parte já construída
no subúrbio do Alecrim e cujos limites serão os seguintes: com a Paróquia de
Natal se dividirá pelo Riacho Lagoa Seca, começando do lugar que deságua no Rio
Potengi e subindo pelo seu curso que
atravessa o Baldo até aquela Lagoa, onde encontra a Avenida Alexandrino de Alencar,
daí seguindo na direção da mesma avenida até ao ponto em que esta vai atingir o
oceano,com as freguesias de Papari (Nisia Floresta), São José de Mipibu,
Macaiba e São Gonçalo; as extremas serão as mesmas que separam da Nossa Senhora
da Apresentação de Natal.Dado e passado
nesta Episcopal Cidade de Natal, sob nosso sinal e selo das Nossas
Armas, aos 15 de Agosto de 1919.foi assim criada a Paróquia de São Pedro, do
Alecrim.
Terminada
a solenidade, Dom Antonio disse o seguinte:
“O
que se passa no meu coração, no coração de um Bispo, não o podeis
compreender.Em um dia como o de hoje nãoé só a ereção da paróquia que me
alegra, é também a escolha do seu padroeiro, aquele que é a pedra angular da
Igreja.Sinto o meu coração de Bispo pulsar de um modo ainda não experimentado
pois, é a PRIMEIRA PARÓQUIA que crio, depois de haver empunhado o báculo”. (DIÁRIO
DE NATAL, 16/08/1950, p.6).
No
mesmo dia 17 foi benta a imagem de São Pedro que saiu em procissão pelas
principais ruas da cidade.
Foto: A Ordem,1935. |
Durante
o tempo em que a matriz esteve em reforma em 1936 as missas foram celebradas no
Colégio de Nossa Senhora das Neves.
Os
trabalhos de construção da primeira igreja só foram concluídos em julho de 1937
onde se gastou a importância de 8.334$000 (oito contos, trezentos e trinta e
quatro mil réis).
A
reforma e ampliação da matriz começou em 1950. No ano de 1951 foram iniciados
os serviços de ampliação da Matriz pelo vigário padre Martinho Stensel. Foi
construído um novo altar-mor, como também dois laterais, dois púlpitos e duas
sacristias.
“Recompensando
as lutas e dificuldades que foram empregadas para a concretização desse obra tão importante,
ela se ergue hoje ampla e majestosa dominando e e evocando o bairro do Alecrim”
disse o padre José Venilson de Araújo, missionário da Sagrada Família, que foi
o primeiro vigário brasileiro da paróquia do Alecrim (DIÁRIO DE NATAL, 16/08/1950,
p.6).
O
vigário da paróquia do Alecrim começou a executar seu plano de aumentar a
tradicional igreja da praça Dom Pedro II.
Segundo
jornal A Ordem naquela época o templo já estava pequeno para conter os fiéis
que diariamente ali iam praticar a sua religião.
O
bairro populosíssimo do Alecrim tinha em 1950 já duas paróquias, a São Pedro e
a São Sebastião, daí a necessidade de ser ampliada a matriz o que seria
realizado graças ao apostolado incansável do seu virtuoso pároco o Pe.
Martinho.
Quem observava aos domingos o movimento
de fiéis em torno do referido templo poderia concluir como foi oportuna a ideia
daquele sacerdote.As missas dominicais, na matriz de São Pedro erma muito
concorridas.Todos os recantos da matriz se repetiam, horários diferentes, mas
sempre uma multidão se comprimia na igreja do Príncipe da Igreja.( A
ORDEM,17/05/1950,p.2).
Os planos do padre Martinho eram sempre arrojados, como se
sabiam, como, por exemplo, o amplo salão paroquial. E para a reforma da capela
mor da matriz não poderia ter outra atitude.
Idealizou e pretendia executar com as bênçãos de Deus e com
o apoio do Sr. Bispo Diocesano, dom Marcolino Dantas, e dos católico em geral,
uma grandiosa obra.
O povo que sempre ajudava nas boas iniciativas, estava
empolgado com a ideia do vigário do Alecrim, e tudo fazia crer que dentro em
breve teria a capital potiguar um templo mais amplo, mais moderno, a altura
portanto, do progresso crescente do populoso bairro do Alecrim, cuja a
população não se cansava de trabalhar para o seu desenvolvimento espiritual.
A
remodelação da igreja matriz de São Pedro no Alecrim terminou parcialmente em
1954.
Sobre os antigos alicerces
foi edificada uma das mais importantes, bonitas e maiores igreja de Natal.
Naquele ano seria realizada a cerimônia
de sagração episcopal de Dom Eugênio de Araújo Sales, bispo auxiliar de Natal,
em virtude da matriz de São Pedro ser mais ampla que a Catedral Metropolitana.
São Pedro na torre da igreja
Nenhum comentário:
Postar um comentário