quarta-feira, 12 de junho de 2019

EXPLICANDO O PROJETO DO EDIFÍCIO DOS CORREIOS DE NATAL


O projeto do edifício destinado a Diretoria Regional do Correios e Telégrafos em Natal foi de autoria do engenheiro Paulo Candiota e foi ele quem apresentou o seu projeto em artigo publicado na Revista da Diretoria de Engenharia do Rio de Janeiro (nº.5,  ano 2, 1933, p.5-7).Eis o teor do referido artigo transcrito do original apenas com correções ortográficas que foram atualizadas conforme a normativa atual.


O terreno destinado a receber a construção era de forma retangular e situado em uma esquina formada por uma ampla avenida[1] e uma rua menos importante, que ia em direção perpendicular ao cais do porto no Rio Potengi e por onde circulava uma linha da estrada de ferro[2] medindo por aquela 34,25m e por esta 31,15m.
Para que ficasse a construção mais ou menos dentro dos limites da verba de 400:000$000, reservada para tal finalidade, a Diretoria do Material do Departamento dos Correios de Telégrafos, estabeleceu previamente que fosse fixado em 350$000 por m² de pavimento o custo provável da construção.
O edifício foi projetado mais ou menos dentro destes limites, somando as áreas dos dois pavimentos 627m², exceto a garagem que mediria 41m² e cuja base de preço por metro quadrado era menor.
         O projeto do edifício foi estudado de forma a oferecer, não só ao público como aos funcionários que nele trabalhariam o Maximo de conforto e comodidade. Assim é, que a planta foi estudada satisfazendo plenamente a todas as exigências de distribuição para maior eficiência de trabalho, que requeria um edifício deste gênero, que eram as seguintes:
1º- Completa independência da parte procurada pelo público da outra destinada aos funcionários.
2º-Circulaçaõ perfeita ligando entre si todas as dependências.
3º-Disposiçao de todos os guichês ao alcance rápido do público e acesso fácil as dependências procuradas por este.
4º-Distinção perfeita do serviço de valor do sem valor, com ligação fácil de ambos com a manipulação, e direta dos guichês de valor com a Tesouraria.
5º ligação rápida dos guichês de taxa telegráfica com a sala de aparelhos e desta para a expedição.
6º-Ligação direta da sala dos carteiros e estafetas com a de manipulação e de expedição.
7º- Serviço de carga e descarga da correspondência direta na manipulação e do material no almoxarifado.
8º-Colocação isolada da usina devido a exalação de gases das pilhas e baterias.
         Quanto ao partido arquitetônico de fachada a ser adotado, por si só a situação do terreno, indicava, pela grande diferença de importância entre as artérias nas quais ele ficava situado. O partido arquitetônico do ângulo, isto é, aquele no qual esta parte do edifício dominava, fazendo-se por ai o acesso principal ao mesmo, não seria plausível, em vista de ficar esta em posição oposta a direção da parte central da cidade.

                                   Fachada principal e lateral

                              Vista aérea vendo-se o pátio de serviços 

         Por isso foi escolhido como partido mais lógico o do complexo domínio da fachada da Avenida, em cujo eixo foi localizada a entrada principal.
     O acesso ao edifício seria feito por três entradas distintas: uma destinada exclusivamente ao público, outra aos funcionários e uma terceira aos veículos.A primeira, localizada na fachada principal dando para a grande Avenida, se faria por uma espaçosa porta de ferro batido, que abriria-se diretamente, sobre o grande hall do publico, para o qual dava todos os guichês.A segunda seria feita pela fachada lateral que daria sobre a rua onde transitava a estrada de ferro, dando logo acesso ao hall de serviço.A terceira, também pela Avenida, seria feita por um grande portão que daria aceso ao pátio de serviço, para onde daria as plataformas de carga da conferencia e almoxarifado e aonde se acharia localizada a garagem.
         Tanto a entrada principal como a de veículos tiveram que ser pela mesma Avenida por que não poderia ser de outra forma em vista do tráfego da estrada de ferro pela outra rua.
         Aproveitando, no entanto, o trânsito da estrada de ferro por esta rua, foi prevista a entrada de serviço que daria para ela bastante espaçosa, a fim de facilitar, por um pequeno ramal por meio de vagonetes, a carga e descarga da correspondência dos vagões diretamente na plataforma da sala de manipulação.
         No grande hall do publico estariam localizados todos os guichês; em frente as portas de entrada estaria a caixa de coleta, a sua esquerda os guichês de valor como os de venda de selos, taxa telegráfica, emissão de vales, pagamento do pessoal e saldo de agências e registro sem valor; a direita os sem valor como aérea, expressa, registro sem valor, posta restante e colis posteuax.
         A direita de quem entrava no grande hall do público e dando para este localizaria um dos corpos laterais da fachada principal desenvolvendo-se a escada principal de aceso do público ao segundo pavimento e assim como também o serviço de informações, um pequeno depósito e portaria.
Esta última ficaria junto a escada comunicando-se o exterior por uma pequena porta de emergência, que facilitaria o acesso direto a sala de aparelhos, independente de passagem do grande hall.Teria por fim esta entrada facilitar o serviço noturno do telegrafo com dispensa de porteiro e sem despesa de iluminação do grande hall, atingindo-se esta entrada que ficava próxima, pelo portão de veículos que dava para a Avenida.
         No corpo lateral da esquerda, também dando diretamente para o grande hall do publico estava localizado o serviço de assinantes compreendendo: a manipulação, o guichê de entrega de registrado e as caixas de assinantes.
         A parte de serviço estava dividida em 5 grupos: Diretoria Geral, serviço econômicos, tráfego telegráfico, tráfego postal e linhas e instalações.
         No 1º pavimento a direita de quem entrava dando para o pátio estava localizada a tesouraria para onde davam todos os guichês de valor, o arquivo, a casa forte e o compartimento de registrados com valor.
A esquerda, dando sobre a fachada lateral estava localizado o serviço de tráfego postal, que compreendia um amplo salão de manipulação tendo em uma das extremidades, a dependência do chefe do tráfego e auxiliares e na outra a de manipulação dos carteiros ligados diretamente ao hall de serviço, tendo este salão ligação direta com a sala de conferencias, que dava com a plataforma de carga sobre o pátio, assim como também com os diversos guichês sem valor, e compartimentos destes, como: o de registrados sem valor, collis postauex, entrega de registrados e assinantes e ainda com a manipulação, caixa de assinantes, caixa de coleta e tesouraria.
                               Planta do 1º pavimento


                                         Planta do 2º pavimento

         Dando sobre o pátio estavam localizados as salas de conferencia postal, de expedição do serviço telegráfico e de estafetas e carteiros com ligação rápida com o hall de serviço, e ainda os vestiários e aparelhos sanitários para homens e senhoras, dado para a galeria de circulação.
Nos fundos estaria situados o Hal de serviço que dava sobre uma área de entrada para a fachada lateral e o almoxarifado, com plataforma de carga para o pátio. No hall, estava localizado o monta cargas, que também serviria diretamente o almoxarifado, facilitando desta forma a subida ou descida de qualquer carga do hall do 1º pavimento para o do 2º ou para o almoxarifado e daí rapidamente para o exterior ou interior do edifício.Ligando todas estas dependências haveria uma galeria de circulação  que daria para o hall de serviço.
No 2º pavimento se localizaria a Diretoria Geral que ocuparia a fachada principal do edifício, com acesso rápido pela ampla escadaria do hall do público, e que compreendia a sala do contínuo, sala  de espera, gabinete do Diretor e auxiliares, sala do protocolo e expediente, seguindo-se a contadoria seccional, biblioteca e abrangendo parte da fachada lateral os serviços econômicos e arquivo.
         O serviço de tráfego telegráfico separado pela galeria de circulação da Diretoria Geral e dando sobre o pátio, também com acesso rápido pela escada do grande hall do público, compreendia a sala do chefe de tráfego telegráfico e auxiliares, a grande sala de aparelhos e suas dependências, arquivo do dia e uma pequena oficina com ligação direta por meio de tubos com o guichê da taxa telegráfica e com a sala de expedição no 1º pavimento.
Nos fundos, dando sobre a fachada lateral, tinha-se as dependências do serviço das linhas e instalações e rádio que eram: a sala de inspetores e guarda-fios, sala de praticantes, rádio e por último a usina elétrica que daria para o pátio de distribuição que se compunha de salas de bateria e do quadro de distribuição.Dando para o pátio estariam localizados: um avarandado para café e na mesma posição que os de baixo, os vestiários e aparelhos sanitários para homens e senhoras.
Como no 1º pavimento todas as dependências davam para uma galeria de circulação, que ai, ligava o hall de serviço com a escada de acesso do hall do público, estabelecendo uma ligação perfeita entre todas as dependências.
                            Detalhes da fachada principal e lateral


                                        Detalhes da fachada principal


                         Fundo do edifício pela av. Duque de Caxias



                                     Detalhes do edifício em 3d


                               Detalhes da fachada principal 
Fotos: Google Earth, 2019.




[1] Atual Esplanada Silva Jardim, na Ribeira.
[2] Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.Era a linha de contorno que dava até a Estação central da Esplanada Silva Jardim, atual sede do DNOCS.

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