terça-feira, 14 de maio de 2019

O SANEAMENTO DE NATAL


Histórico
         No fim do Império fez-se uma concessão para o abastecimento potável da cidade de Natal.
         Em 1907, iniciou-se o serviço regular da perfuração de poços tubulares.
         De 1924 a 1926,s endo governador do Estado, José Augusto, foram feitos sob a direção do engenheiro Henrique Novais, importantes estudos e projetos para os serviços de água e esgoto e adquirida a parte material.Ao mesmo tempo, perfuraram-se no Baldo 15 poços.
         Sendo Interventor no Estado, Mário Câmara, em 1935, o governo estadual assinou o contrato com o escritório Saturnino de Brito para o projeto de construção das novas obras de água e esgotos.Para o inicio dos trabalhos, depositou logo no Banco do Brasil cerca de 2 mil contos.
         A mudança de governo em nada alterou a marcha dos serviços, pois o novo chefe do executivo, Rafael Fernandes, bem compreendeu o elevado alcance da obra.Foi mesmo no seu governo que se realizaram os trabalhos avultados, que exigiram grandes despesas.Para seu custeio não hesitou o governo  em face da crise reinante, em levantar um empréstimo de 7 mil contos no Banco do Brasil, já que as rendas do Estado não bastavam para o custeio das obras.O custo total das obras subiu a 12.498:325$548.
      O estudos destinados a captação de água esteve a cargo do geólogo Glyson de Paiva.Graças aos estudos feitos, os serviços poderiam suprir uma população superior a 200 mil habitantes.

O sistema de abastecimento de água e saneamento de Natal
       Eis um resumo do sistema de abastecimento de água e saneamento de Natal elaborado pelo Escritório Saturnino de Brito.

As captações de água
           O sistema de captação era o seguinte:
I-Captação das Dunas.Considerada a principal da cidade, pela abundancia e excelência da água.Eram 16 poços,compreendendo as zonas A e B, cada uma com 8 poços tubulares.Ao todo, davam uma vazão diária de 800 m³, podendo dar 8.100 para o futuro.A elevação d’água se fazia por bomba turbinas.
II-  Captação Manoel Felipe.Eram 9 poços, com uma vazão diária total de 1.700 m³.Á água era elevada a superfície por ar comprimido.
III-Captação Lagoa Nova.Esta captação era a de cota mais alta disponível para o abastecimento e de grande vantagens econômicas.A ela estavam ligadas 12 poços, com um sifão físico, cada um, indo todos a um poço de reunião, de onde a água era recalcada para uma caixa de partida, em elevação, da qual por gravidade, ia para o  reservatório R.3.
IV-  Captação de Petrópolis.Eram 6 poços ali perfurados, para abastecimento da zona alta de Petrópolis, Praia do Meio e Areia Preta.A particularidade destes poços era que o grupo moto-bomba ficava  mergulhado inteiramente.O total do volume captado era de 900 m³.
V-Captação Baldo.Funcionavam ali 5 bombas, que abasteciam o R.1, reservatório alimentador da Ribeira.O volume era de 400 m³ por dia.
Os reservatórios
     Todas essas captações iriam ter 3 reservatórios espalhados na cidade: o Reservatório R.1 com capacidade de 500 m³,situado na esquina da Avenida Deodoro, com a rua Manoel Dantas, Receberia as águas do ecalque do Baldo e alimentaria a zona baixa da cidade, a Ribeira.O Reservatório R.2, com capacidade de 320 m³, situado no extremo da Avenida Getúlio Vargas (antiga Atlântica).Abasteceria a Praia do Meio e Areia Preta.Mas o alimentador principal da cidade era o Reservatório R.3,situado no extremo do bairro do Tirol.Sua capacidade era de 3 milhões de metros cúbicos.Ele receberia as águas captadas nas Dunas, Manoel Felipe e Lagoa Nova.
     Além  dos 3 reservatórios, também foi construída uma caixa d’água em torre no bairro de Petrópolis, destinada a abastecer a zona alta do referido bairro. 

Chafarizes
     Para atender aos bairro pobres,foram construídos,a inda, dois chafarizes no Alecrim, sendo pensamento do governo construir mais 4 dos quais 1 no Alecrim,1 em Petrópolis e 2 nas Rocas.

Serviços de esgotos
         Se os serviços de água de Natal rivalizariam com os melhores da América, outro tanto sucedia com as obras relativas aos esgotos, em cuja construção foi observada rigorosamente a técnica do grande sanitarista Saturnino Brito.
      A cidade, pelo projeto, foi dividida em 16 distritos, dos quais 3 funcionariam por elevação mecânica e os demais por gravidade.
         Os despejos seriam levados por meio de 8 coletores gerais, ao tratamento e daí para a descarga final, no estuário do rio Potengi.
       As particularidades mais interessantes do serviço constavam dos tanques fluxíveis, para lavagem automática dos coletores, a estação elevatória do distrito 5 (d-5) a praça Pio X, constando de um poço no subsolo, onde eram recolhidos os despejos, adjacentes e outro onde estavam construídas as bombas.Dai o efluente iria para o C.G-1 sendo levado, por gravidade ao tratamento.Nessa estação funcionava também 4 aparelhos sanitários para o público.( A ORDEM, 13/05/1939,p.1-4).
        O principal coletor da rede sanitária era o C.G 1, com mais de 3 km de extensão.Eram também notáveis os trabalhos do C.G-2 e coletor respectivo e o túnel entre a avenida Junqueira Aires e a Avenida do C.G-1 com extensão de 89 metros.

A depuração
         Ao par do perfeito serviço de redes, de esgotos figurava a moderníssima estação de depuração, situada no Baldo.
       Todo o efluente da cidade chegava a estação por 3 coletores (até o momento somente 2 em operação) reunindo-se num poço.Dai continuaria chegando aos classificadores, em número de 2, onde esse faria a separação entre água, que era lançada no Potengi, e a lama.Esta levada por meio de pás mecânicas, para o poço de lamas, de onde bombas recalcam para os digestores, que eram 2.
     Ai se produzia a ‘digestão’ das lamas, com o despendimento de gases, que eram recolhidos a um balão, a fim de serem utilizados como combustível, pondo em funcionamento a bomba e o motor a gás de esgotos, com gerador elétrico.
     Dos digestores, a lama iria por gravidade, aos tanques de secagem, de onde era retirada para servir de adubo ou material para aterro.
         Eis um resumo do sistema de abastecimento da capital potiguar.
                             Obras do saneamento de Natal em 1937


As solenidades de inauguração
Foi este o programa da inauguração dos sistema de abastecimento de água e saneamento de Natal:
08h00-Saída da Praça 7 de Setembro, defronte do Palácio do Governo, e ônibus e automóveis, para visita as novas captações de água subterrâneas em Dunas, Manoel Felipe, Lagoa Nova e Petrópolis e aos reservatórios do R.1 e R.3.
10h00-Aperitivo oferecido pelo Escritório Saturnino de Brito no Bar do Reservatório R.2 em Petrópolis.
11h00-Ato inaugural na sede da Repartição do Saneamento, discursando o Interventor Rafael Fernandes e o engenheiro F. Saturnino de Brito Filho.Visita do edifício e da Exposição do Saneamento.
11h30-visita a estação elevatória do Distrito -5 de esgotos e as instalações de Depuração no Baldo.
         Um ônibus, sairia pela manhã fazendo o tráfego entre o Aeroclube e o Reservatório 3, a começar das 8h00 da manhã,s endo franqueada ao público a visita as obras do Saneamento. 
      A festiva inaguração dos serviços do Saneamento de Natal deu ensejo a que se realizassem na capital solenidades excepcionais e bem merecidas no dia 13/05/1939.
         Natal era a capital de um estado que quer progredir e que realmente marcha para a frente, Natal ressentia-se de um conveniente serviço de águas e esgotos.Agora, ei-la dotada com instalações que a faziam rivalizar, neste particular com as melhores cidades da América.

excursão
         Segundo o programa previamente traçado, partiram todos os convidados juntamente com o Interventor Rafael Fernandes, auxiliares do governo, engenheiros F. Saturnino de Brito, do Escritório Saturnino de Brito, as 8 horas da manhã, da praça 7 de setembro, nada menos de 50 automóveis e 2 ônibus conduzindo os convidados e autoridades.
         Foram percorridos no meio da curiosidade e admiração de todos pela magnitude e perfeição dos trabalhos, as captações da Lagoa Nova e Dunas, o Reservatório 3, no Tirol, os Reservatórios 1, na cidade, e 2 em Petrópolis,s endo prestados a todos os necessários esclarecimentos.
         No bar anexo ao reservatório 2, em Petrópolis, foi gentilmente oferecido pelo escritório Sartunino de Brito aos presentes um aperitivo.Lá se encontrava um afinado “jazz-band” da força pública, que executou vários números.
      Na imagem a baixo, da esquerda para a direita: Sede do Departamento de Saneamento de Natal, engenheiro Saturnino de Brito Filho, responsável pelas obras, Rafael Fernandes, interventor federal que tocou a obra de saneamento de Natal, Aldo Fernandes, secretário geral do estado e visita a casa de bombas da estação de efluente.

Fonte: A Noite,14/11/1939,p.49.




O ato inaugural
         Do R.2, em Petrópolis, dirigiram-se todos para a Repartição Central do Saneamento, na Ribeira.
Fala do engenheiro Saturnino Brito
         Fazendo a entrega dos importantes trabalhos, falou em primeiro lugar o engenheiro F. Saturnino de Brito Filho, chefe do renomado escritório que tinha o nome do seu progenitor.O engenheiro pronunciou interessante discurso, que a todos deixou a melhor impressão.
         Ele traçou  um histórico do problema do Saneamento em Natal, desde o Império até aqueles dias, recordando a atuação dos governos José Augusto e Mario Câmara, até chegar ao do Interventor Rafael Fernandes, pondo em merecido relevo o esforço do interventor na cabal solução do problema, apesar de todas as dificuldades.Enumerou nada menos de 20 obras importantes que o Escritório entregava ao patrimônio do Estado, tais como captações de água, estações de esgotos, 58 km de rede distribuidora d’água, 33 km de rede de esgotos, etc.
         Tais obras tornavam a cidade de Nata, no seu dizer, a principal cidade brasileira, relativamente serviços d’água profunda, com 8 mil metros cúbico diários, podendo aumentar muito ainda, e de modo suave.
         Referiu-se aos prévios estudos de geologia do subsolo, realizados pelo técnico dr. Glyson de Paiva, pela primeira vez no Brasil, se fez um estudo sistemático do solo, com a finalidade que teve.Lembrou que em Petrópolis se fez pela primeira vez no Brasil, aplicação de captação através de bomba motor-bomba submersos, que o serviço de tratamento de esgotos era dos mais modernos, pois não havia se quer precedentes, mesmo em experiências, ressaltando a importância do emprego da energia conseguida com o gás resultante da digestão das lamas.
         Feitas essas considerações de ordem técnicas, declarou que o seu escritório tinha dedicado, estava certo,o máximo de atenção e conhecimento na realização dos trabalhos.
         Voltou a elogiar a clarividência e esforço do interventor,n]ao retardando o inicio e prosseguimento dos trabalhos, pois todo o material subiu até 50%.Deu o seu testemunho do interesse do interventor Rafael Fernandes, do secretário geral do estado, Aldo Fernandes, cuja perspicácia elogiou e dos outros seus auxiliares da administração na execução das obras.Mostrou ainda de quanto valeu o ato do presidente Getúlio Vargas, concedendo isenções e favores ao material importado,s em o que as despesas teriam sido sobrecarregado com mais de 890 contos.

                                                                               Fonte: A Noite,14/11/1939,p.49.

Discurso do interventor federal
         O discurso do interventor federal foi um fiel relato da sua administração e das atuais condições do estado.
         Disse o interventor que ao assumir o governo, logo lançou vistas para o saneamento de Natal, considerando assim, o dia da inauguração como uma justificada vitória.
         Fez histórico sucinto e fiel de todos os esforços anteriores para  a solução do problema, desde o Império.Referiu-se aos trabalhos realizados no governo José Augusto, que chegou a criar uma comissão de saneamento e contratou para os estudos do problema um técnico de valor, o engenheiro Henrique Novais .elogiou esses trabalhos.Recordou que foi encomendado o primeiro material, de ótima qualidade, todos aproveitado.Adiantou que em 1933, Otávio Tavares reclamava a necessidade de ampliação do serviços.No ano seguinte Celso Caldas fazia um estudo relativo ao Jiqui.Em 1935 o interventor Mario Câmara criava novamente a Comissão de Saneamento e contratava a realização dos serviços com o escritório Saturnino Brito.
         Ao chegar ao governo, declarou o interventor, o escritório já havia concluído os estudos, relatórios e projetos.Estavam dependentes de aprovação .Examinando-se pessoalmente e encarregando engenheiros e advogados de examiná-los também, colheu a mais lisonjeira impressão, que mais se robusteceu com a exposição que lhe fez o próprio Saturnino Brito.Foram então aprovados a 19/11/1935.
         As obras tiveram inicio em 22/01/1936.Daí por diante, foi um trabalhar constante.O governo não  recuou,nem mesmo em face da situação financeira.O seu antecessor imediato deixara 1.412:829$100 ao Banco do Brasil, especialmente destinados aos serviços.Esgotaram-se, fazendo-se necessário novos recursos,que o estado mal refeito do golpe extremista não podia dispender.Negociou então um empréstimo de 7 mil contos ao Banco do Brasil, mas ao qual ficou incorporada a antiga divida do estado, de 1.142 contos.
         Mostrou o interventor que mais rapidamente não se fez o empréstimo, pela obstrução na Câmara Federal, feita por deputado, que trouxe sérios prejuízos, retardando, a marcha normal dos serviços. ( A ORDEM,14/05/1939,p.1).
Entre os aspectos mais brilhantes da administração do interventor Rafael Fernandes Gurjão mereceu realce o saneamento da capital potiguar, realizado sobre bases primorosas.sendo médico, o interventor, pode dotar a bela capital potiguar de aparelhamento verdadeiramente modelar, partindo do abastecimento de água, fundamento de todo o saneamento conduzido com esmero e consciência cientifica.
A população de Natal contava a partir de então com um perfeito serviço de abastecimento de água potável, que em qualidade,quer em quantidade, com o precioso liquido a jorrar pelas torneiras em qualquer hora do dia ou da noite, e um completo sistema de esgotos sanitários, removendo os líquidos impuros e dando-lhes destino inócuo.
Os locais de reservatórios, captações, tratamento, etc, foram , sempre que possível, aproveitados para criação de parques e jardins, onde os visitantes e a população  pudessem ter a impressão de como em Natal eram carinhosamente cuidadas as obras que diziam respeito com a saúde pública.

                                 Estação de efluentes do Baldo
                                             Fonte: A Noite,14/11/1939,p.49.

                                          Planta da cidade de Natal

                                                                       Fonte: A Noite,14/11/1939,p.49.

2 comentários:

  1. Parabéns!!! Excelente conteúdo histórico. Não conhecia esse material de a Noite com as falas das autoridades.

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    1. Grato pela visita ao blog e pelo comentário. De fato é um material valioso para uma parte importante da história de Natal.

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