Eis como foi narrada a lenda do
sino da igreja ade Extremoz na revista Vamos Ler em 1946:
Uma das mais belas lendas e
menos conhecidas lendas brasileiras é a de certa igreja encantada que nem se
quer chegou a ser construída[1].Narra
essa belíssima lenda, que em tempos que já vão longe, quiseram os jesuítas do
Estado do Ceará homenagear o povo daquele pedação de chão do Brasil edificando
uma suntuosa igreja custasse o que custasse[2].
Apenas iniciada a construção do
sagado edifício, encomendaram os padres um sino de gigantescas proporções
devendo ser trazido de um grande centro longínquo. Depois de pronto, o sino se
apresentava tão grande que se tornava necessário construir para ele um carro
especial, para ser puxado nada menos do que por 12 bois. Posto no carro saiu o
sino com grande pompa, acompanhado de vários sertanejos.
Depois de alguns dias de viagem
ininterrupta, chegou o carro que ia diretamente ao local onde a igreja estava
sendo construída. A meio do caminho, porém, chegaram os bois as margens de um
grande lago sobre o qual não havia ponte e que é hoje conhecida pelo nome de
Extremoz.
Era noite. No céu aveludado que
imitava o Oceano em bom tempo, movia-se lentamente, por entre milhões de
estrelas, a lua prateada e melancólica Aves noturnas e sinistros morcegos
cortavam o espaço de vez em quando. Altas palmeiras e humildes coqueiros
desenhavam silhuetas fantásticas, enquanto milhões de vagalumes, de luz
azulada, rondavam por entre as plantas a lâmpada mágica do Alandino [3].
Mas os matutos não viram nada
disso. Cansados de tantas jornadas, dormiam placidamente junto ao sino,
enquanto os bois, ignorando o perigo que os aguardava, continuaram lentamente o
seu caminho, entraram na água, andaram devagar, firmes, afundando cada vez mais
até que junto com o carro, o sino e os matutos foram totalmente tragados pelas
aguas do grande lago.
Um grande círculo, seguido por outros
menores, surgiram sobre as aguas e correndo e correndo um atrás do outro
chegaram a beira, onde se despedaçaram. Foi o derradeiro adeus da triste
caravana.
Desde então alguns séculos já se
passaram, mas, ainda hoje afirmam os matutos das vizinhanças do lago, que a
certas horas da noite ouve-se o triste badalar do sino submerso. Repica por
alguém ou chama os fiéis a oração? Ninguém o sabe...
Fonte: revista Vamos Ler! 04/07/1946,
p. 30.
[1] Na
realidade a igreja foi sim construída, era a igreja matriz de São Miguel e
Nossa Senhora dos Prazeres da Missão do Guajiru em Extremoz-RN.
[2]
Mais um erro do cronista, pois não existe tal localidade no Ceará, a Extremoz
que foi missão dos jesuítas no nordeste foi no Rio Grande do Norte e não no
Ceará.
[3] O
parágrafo possivelmente seja um enxerto poético do narrador a lenda.
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