quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A LENDA DO SINO DE EXTREMOZ NA REVISTA 'VAMOS LER'


            Eis como foi narrada a lenda do sino da igreja ade Extremoz na revista Vamos Ler em 1946:
           Uma das mais belas lendas e menos conhecidas lendas brasileiras é a de certa igreja encantada que nem se quer chegou a ser construída[1].Narra essa belíssima lenda, que em tempos que já vão longe, quiseram os jesuítas do Estado do Ceará homenagear o povo daquele pedação de chão do Brasil edificando uma suntuosa igreja custasse o que custasse[2].
      Apenas iniciada a construção do sagado edifício, encomendaram os padres um sino de gigantescas proporções devendo ser trazido de um grande centro longínquo. Depois de pronto, o sino se apresentava tão grande que se tornava necessário construir para ele um carro especial, para ser puxado nada menos do que por 12 bois. Posto no carro saiu o sino com grande pompa, acompanhado de vários sertanejos.
           Depois de alguns dias de viagem ininterrupta, chegou o carro que ia diretamente ao local onde a igreja estava sendo construída. A meio do caminho, porém, chegaram os bois as margens de um grande lago sobre o qual não havia ponte e que é hoje conhecida pelo nome de Extremoz.
           Era noite. No céu aveludado que imitava o Oceano em bom tempo, movia-se lentamente, por entre milhões de estrelas, a lua prateada e melancólica Aves noturnas e sinistros morcegos cortavam o espaço de vez em quando. Altas palmeiras e humildes coqueiros desenhavam silhuetas fantásticas, enquanto milhões de vagalumes, de luz azulada, rondavam por entre as plantas a lâmpada mágica do Alandino [3].
         Mas os matutos não viram nada disso. Cansados de tantas jornadas, dormiam placidamente junto ao sino, enquanto os bois, ignorando o perigo que os aguardava, continuaram lentamente o seu caminho, entraram na água, andaram devagar, firmes, afundando cada vez mais até que junto com o carro, o sino e os matutos foram totalmente tragados pelas aguas do grande lago.
          Um grande círculo, seguido por outros menores, surgiram sobre as aguas e correndo e correndo um atrás do outro chegaram a beira, onde se despedaçaram. Foi o derradeiro adeus da triste caravana.
         Desde então alguns séculos já se passaram, mas, ainda hoje afirmam os matutos das vizinhanças do lago, que a certas horas da noite ouve-se o triste badalar do sino submerso. Repica por alguém ou chama os fiéis a oração? Ninguém o sabe...

Fonte: revista Vamos Ler! 04/07/1946, p. 30.




[1] Na realidade a igreja foi sim construída, era a igreja matriz de São Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres da Missão do Guajiru em Extremoz-RN.
[2] Mais um erro do cronista, pois não existe tal localidade no Ceará, a Extremoz que foi missão dos jesuítas no nordeste foi no Rio Grande do Norte e não no Ceará.
[3] O parágrafo possivelmente seja um enxerto poético do narrador a lenda.

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