quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A NOVA CATEDRAL DE NATAL ( parte I)

A Arquidiocese de Natal (Archidioecesis Natalensis) é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica no estado do Rio Grande do Norte. É a Sé Metropolitana da Província Eclesiástica de Natal, tendo duas dioceses sufragâneas: Caicó e Mossoró.
            Sua criação ocorreu em 29 de dezembro de 1909 pela Bula Apostolicam in Singulis do Papa Pio X por meio do desmembramento da diocese da Paraíba. A elevação a Arquidiocese ocorreu em 16 de fevereiro de 1952 pela Bula Arduum Onus do Papa Pio XII.
            Tem como padroeira Nossa Senhora da Apresentação, também padroeira da cidade de Natal.

            Quando foi criada a diocese a igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação na Cidade Alta foi elevada a dignidade de igreja catedral, condição que vigorou até 1988 quando foi inaugurada a nova catedral na Avenida Deodoro da Fonseca, na antiga praça Pio X.A Catedral Metropolitana de Natal (também conhecida como Catedral Nova ou Catedral Nova Cidade), dedicada a Nossa Senhora da Apresentação.
História
            É a atribuída ao Pe. João Maria, considerado o santo de Natal, a vontade de se construir uma igreja maior para se adequar ao crescimento da capital potiguar, essa seria a futura catedral de Natal, porem o padre viveu e morreu sem que a diocese houvesse sido criada. O padre João Maria promovia procissões as praias de Natal para recolher pedras para a construção dessa nova igreja que seria num futuro a nova catedral de Natal.
            Em 1929 tomou posse o terceiro bispo da diocese de Natal, Dom Marcolino Dantas, tendo em sua missão episcopal dois grandes projetos: abrir o seminário e construir uma nova catedral. O seminário de São Pedro foi aberto no ano seguinte, já o projeto para a nova catedral foi mais complicado e teve vida longa até ser inaugurada como veremos a seguir.

A majestosa catedral gótica
            O projeto inicial da nova catedral de Natal foi um projeto do arquiteto francês George Munier em estilo gótico inspirado na catedral de Colônia na Alemanha e semelhante as catedrais de São Paulo e Fortaleza, esse projeto foi engavetado, a diocese havia adquirido o terreno para a construção da nova catedral, na praça Pio X, na Cidade Alta, dom Marcolino chegou a dá a benção solene da pedra fundamental no dia 03/10/1933, porém os trabalhos de construção não avançaram.

A catedral monumento em estilo neoromano
            Com a nomeação de Administrador Apostólico da Arquidiocese de Natal Dom Eugênio Sales em 1954 a ideia voltou a ser discutida dessa vez com um novo projeto a fim de atender as circunstâncias da época relacionada ao custo da construção.
            Desta vez o novo projeto apresentado substituiu a arquitetura gótica pela neorromana, com capacidade para acomodar até 5 mil pessoas.
            Esse projeto para a nova catedral de Natal coube a Calixto de Jesus Neto, o mesmo que havia projetado a Basílica de Aparecida, assim, foi abandonado o estilo gótico do primeiro projeto e em seu lugar surgiu um novo em estilo neorromano.

A catedral em estilo neorromano
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Projeto do arquiteto Calixto de Jesus Neto em estilo neorromano. Fonte: Diário de Natal, 1973


            Em 18/09/1955 o arquiteto autor do projeto da nova catedral esteve em Natal para apresentar numa conferencia os detalhes do projeto e justificando as modificações introduzidas na planta original.
            As obras se iniciaram na comemoração do cinquentenário de morte do Pe. João Maria em 16/10/1955 com a benção da pedra fundamental, nos dias seguintes o material foi encostado na praça Pio X para dar início as obras de fato. A catedral era considerada uma obra majestosa para Natal.
De acordo com o projeto do arquiteto Calixto de Jesus Neto a catedral seria construída em forma de cruz ornamentada com duas torres, jardins laterais, com capacidade para 2.000 pessoas sentadas e 4 mil em pé tendo sido orçada em 100 milhões de cruzeiros e sem prazo definido para a conclusão, sendo a mais otimista das possibilidades em uma década.
            Foram construídas a sacristia, arquivo da cúria, expediente, biblioteca capela particular do arcebispo, igualmente foram levantados os alicerces e subiram as paredes, faltando o revestimento e o piso.
            Dessa vez as obras se iniciaram rapidamente, porém, foi interrompida porque a Arquidiocese assumiu outras prioridades em sua ação pastoral[1].Ademais o estilo arquitetônico foi considerado obsoleto frente ao que preconizava as novas ideias do Concilio Vaticano II.

A “catedral balcão-galpão”
            Ao tomar posse como arcebispo de Natal em 1967, dom Nivaldo Monte, reavaliou o projeto da nova catedral, foi uma fase polemica pelo elevado número de projetos apresentados, um desses projetos era semelhante ao Palácio dos Esportes localizados na Praça Pedro Velho, essa ideia foi de pronto contestada pela opinião pública e arquitetos.
            Nesse projeto a nova catedral seria construída em estruturas metálicas medindo 40 metros de largura por 60 metros de comprimento e teria capacidade para 3 mil pessoas.
            A concepção arquitetônica desse projeto se assemelharia a três dunas como panorama de fundo se encaixaria na paisagem da cidade. Seria constituído de três estrutura metálicas com três vitrais na frente de forma a permitir o máximo de ventilação. Inicialmente no lugar dos vitrais seriam colocados combongôs. Entre as entradas da frente haveria 12 colunas de cimento significando os 12 apóstolos. Além das três entradas frontais haveria três nas laterais.

                                               Projeto dos alunos do curso de engenharia
Projeto dos alunos da faculdade de engenharia. Fonte: Diário de Natal, 1968, p.1.

         As dimensões seriam: o primeiro bloco e o posterior teriam 40 metros de largura por 35 de comprimento e 18 de altura; o segundo 30 metros de altura por 20 de comprimento e 13 de altura e o menor que seria a frente da igreja 10 metros por 10 de comprimento e 8 de altura. Esse projeto foi elaborado pro estudantes da escola de engenharia
            Tal projeto foi aprovado pelo arcebispo e pelos padres da arquidiocese e esperava-se que fosse aprovada pela comissão de leigos dentre os quais estavam o governador do estado, Associação Comercial e de Diretores Lojistas.

Criticas
            O projeto foi criticado de antiestético e apelidado de catedral-balcão, para o arquiteto João Mauricio “dentro do aspecto técnico a diocese vai construir apenas um galpão” (DIÁRIO DE NATAL, 1967, p. 8), ainda segundo ele, construir uma catedral provisória não resolveria o problema da diocese. O arquiteto era da opinião que a construção e uma catedral era uma obra de arte e que poderia até demandar séculos “ o importante não é o tempo e sim a construção de algo que permaneça para todas as gerações” (DIÁRIO DE NATAL, 1967, p. 8), terminou a sua crítica reafirmando que construir um Palácio dos Esportes em estilo de Igreja era além de inconsequente antiestético.

Nem balcão nem galpão
             A arquidiocese procurou aclamar os ânimos do debate sobre a nova catedral por meio do padre Manoel Barbosa, que apelava para o espirito do Concilio Vaticano II que preconizava construções de igrejas pobres, sóbrias, mas belas e digna de culto, para ele, a mentalidade do povo não se adequava a templos suntuosos, sendo assim quanto mais simplicidade e sobriedade houvesse melhor seria. Para o padre Barbosa o ideal seria uma catedral moderna, sóbria e bela como Natal merecia.

Subterrânea e sem ventilação: O projeto de Luciano Toscano
            Um anteprojeto para a nova catedral foi apresentado a arquidiocese por Luciano Toscano, nesse projeto a obra seria dividida em três pavimentos, sendo o primeiro a uma profundidade de 1,40m, onde na parte da frente seria construída a cúria metropolitana, ficando a igreja propriamente dita na parte de trás, o segundo pavimento compreenderia um platô em cimento armado a 2, 60m acima do solo e o terceiro compreenderia a torre ao estilo da catedral de Brasília, com altura de 26 metros e uma cruz de 7 metros sobre ela plantada.

A Catedral subterrânea. Projeto de Luciano Toscano

Projeto de Luciano toscano. Fonte: Diário de Natal, 1973.

            O projeto foi orçado em 2 milhões de cruzeiros, dos quais 700 mil só de cimento armado. Esse projeto foi vetado pela prefeitura que justificou que a ocupação de todo o terreno da praça Pio X prejudicaria a visão urbanística da cidade.
O anteprojeto da nova catedral se assemelhava a catedral de Brasília, porém sem os raios com a cúpula, achatada, feia, além disso, esse projeto não previa sistema de ventilação perfeito onde ameaçava sufocar os féis.
            Outra crítica ao projeto era de que as salas destinadas a cúria metropolitana se assemelhariam a biombos, contrariando a moderna arquitetura, acrescente a isso que o projeto foi elaborado por um desenhista e não arquiteto, fato esse que estaria preocupando dom Nivaldo Monte.

A catedral Pirâmide. Mais um projeto rejeitado
            A arquidiocese não se interessou pelo projeto mostrado a baixo o qual foi considerado como sendo o melhor para ser executado, a maquete sequer foi mostrada como o foram os desenhos do “ projeto galpões”, a justificativa da arquidiocese era de que o projeto seria muito caro.
            De autoria do arquiteto João Mauricio Miranda. Os padres constataram o alto custo da obra avaliado em NC$ 1 milhão e o projeto teve que ser interrompido ainda na primeira etapa fazendo-se  a opção pelos galpões (Diário de Natal, 1968, p. 8), estilo que os arquitetos consideravam inadequado para o tipo de construção que deveria ser uma catedral.
            De acordo com o projeto a catedral seria construída em concreto armado com uma cúpula sextonada de 17 metros de altura. Ao lado da entrada principal ficaria o batistério e um recinto para a administração dos serviços religiosos, nas laterais ficariam capela para a padroeira, outra para o santíssimo e outra para celebrações menores como batizados, casamentos etc. Haveria ainda um salão para festas religiosas, além das sacristias. A baixo ficaria a cripta para sepultamento dos bispos da Arquidiocese e outras autoridades religiosas.

A Catedral pirâmide. Projeto de João Mauricio Miranda
Projeto de João Mauricio Miranda. Fonte: Diário de Natal, 1968, p. 8.

            A catedral teria três entradas, sendo a principal em rampa, a nave central ficaria com cota menos de 3 metros. No interior haveria apenas uma mesa de mármore e um crucifixo situado em semicírculo em torno do altar.
      O arquiteto João Mauricio criticava os projetos escolhidos pela arquidiocese por se assemelhassem a estruturas de fabricas e ginásios esportivos em estruturas de arcos, segundo ele arquitetura de uma catedral seria arte e como tal deveria ser um marco de uma geração, por isso não entedia o porquê de um projeto ser aceito sem nenhum valor artística como o fora o escolhido pela arquidiocese externando sua opinião sobre o assunto.



[1] Era o Movimento de Natal, em que a arquidiocese se voltou para a construção da Igreja Povo, notadamente na ação social e engajamento dos leigos na vida pastoral e ação política no cotidiano.

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