quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CEARÁ MIRIM A ÉPOCA DA CHEGADA DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE



        A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, antiga reivindicação dos produtores e donos de engenhos do vale do Ceará-Mirim, foi inaugurada em 13 de junho de 1906, no trecho entre Natal e a cidade de Ceará-Mirim.
            Eis a seguir um panorama de como estava caracterizado o município quando a ferrovia foi ali inaugurada.

Aspectos gerais
     O município compreendia os distritos de Ceará-Mirim, Extremoz, Capela, Genipabu, Carnaubal e Muriú. A paróquia dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Sede comarca. Cultivava-se extraordinariamente a cana de açúcar. A população era de 26.000 habitantes e 796 eleitores.
       A cidade sede do município, se situa a margem direita do rio com o mesmo nome, foi elevada a esta categoria em 09/07/1882, tinha 680 casas, 2.720 habitantes.
    Os distritos tinham a seguinte demografia: Extremoz: 60 casas e 300 habitantes; Genipabu: 30 casas e 180 habitantes aproximadamente; Jacumã: 42 casas e 220 habitantes; Muriú: 55 casas e 330 moradores; Queri: 31 casas e 150 moradores; Capela: 40 casas e 26 moradores e Jacoca: 35 casas e 180 moradores.
     O município possuía 2.800 km² de extensão. Limitava-se a época com Touros ao norte, a leste com Oceano Atlântico, São Gonçalo a sul e Taipu a oeste.

Hidrografia

Rios
       O município é banhado pelos rios, Ceará-Mirim, com nascente em na Serra do Cabugi, cortando os municípios de Jardim de Angicos e Taipu, começava a banhar o município de Ceará-Mirim no lugar Duas Passagens[1], desaguando no Oceano depois de 8 léguas dentro do município. Pouco piscoso, formava pequenos poços, no entanto, muito fertilizava com as grandes enxurradas do inverno as terras do extenso vale do Ceará-Mirim. Em alguns lugares as vazantes estavam obstruídas pelo leito do rio.
     O Água Azul, com nascente no proprio município no lugar Nascença, correndo de noroeste para leste depois de um percurso de 2 léguas, entrava no rio Ceará-Mirim pelo norte. Igualmente pouco piscoso, era, no entanto, um dos poucos rios perenes do estado. Fertilizava em todo seu percurso o vele por onde passava e banhando a povoação de Capela.
        O Maxaranguape. Com nascente no olho d’água de Pureza, servi de limites entre o município com o de Touros. Prestava-se pouco a pesca, perene em todo seu curso em cerca de 6 léguas, dava lugar a excelentes vazantes em épocas de estio.

Riachos
    O Massaranduba, tinha sua nascente em Serrinha, correndo em direção sudeste desaguando ao sul da lagoa de Extremoz.
    O Mudo, com nascente em Taipu correndo de oeste a leste banhando a povoação de Jacoca, prestava-se a vazantes, desaguava também na lagoa de Extremoz.
      O Riachão, com nascente ao norte da povoação de Capela correndo de oeste para leste, formando pequenos poços piscosos, encontrava-se com o rio Maxaranguape depois de um percurso de mais de 3 léguas.
   O Queri, com nascente ao norte a cidade, correndo de noroeste para sudoeste, depois de um percurso de 1 légua entrava no rio Ceará-Mirim, não prestava para a indústria da pesca.

Lagoas
     A de Extremoz, com 18 km de extensão. A de Gaspar, com 2 km de extensão e 600 metros de largura e a de Mineiro, com 700 metros de extensão e 200 metros de largura.
         Todas eram pouco piscosas e sem rendimentos para o município.

Serras
       Não havia serras nem matas, de modo que a madeira para construção vinha de outros municípios.

Economia
        O município era considerado o mais fértil do estado, onde se cultiva em grande escala além da cana de açúcar, feijão, milho e algodão.
      O grande vale do Ceará-Mirim devidamente cultivado seria uma fonte perene de recursos para os sertanejos nos tempos de calamidade, porém, havia grande falta de investimentos, sobretudo de capitais, onde a lavoura se achava em verdadeira penúria de longo tempos.
        No vale havia 51 engenhos onde se fabricavam açúcar, rapadura, mel e aguardente, destes, 34 eram movidos a vapor e 17 por tração animal. Havia 100 casas de farinha e uma fabrica de descaroçar algodão movido a vapor. O plantio de cereais e outras culturas era feito em cerca de 400 roçados que em épocas de invernos regulares a safra atingia a marca de 200 mil sacos, a de algodão 2.000 sacos, 2.000 de milho e feijão.
      Com relação ao comércio havia a importação de fazendas, ferragens e gêneros de estivas, com movimentação em torno de 300 contos. Existiam 35 estabelecimentos comerciais e uma fundição.

Transporte
        Antes da chegada da Estrada de Ferro, o transporte de mercadorias era feito por animais regulados por 2.000 réis por carga na distancia máxima de 6 léguas.

Prédios públicos da intendência
       Eram prédios públicos da intendência municipal na cidade o mercado, a escola de instrução primária, a sede da intendência e a fonte pública. Os 2 primeiros eram otimamente construídos.

Instrução pública
      Haviam 4 escolas primárias, 2 para cada sexo, sendo a frequência diminuta.

Cultura
      Havia uma associação literária com 50 associados.

Situação judiciária
Jurados: 300
Juízes distritais:
Alexandre Lopes de Vasconcelos
Lourenço de Araújo Correia
Torquato Dantas da Câmara.

Intendência municipal
Francisco Dantas Cavalcante – presidente.
Intendentes: Felismino do Rego Dantas Noronha.
                    José Fernandes Raposo de Melo.
                    Pedro José Antunes de Miranda
                    Boaventura Dias de Sá.
                    Inácio Justino Mendes Teixeira.
                    José Olímpio Alves de Oliveira.
Suplentes:    Pedro José de Vasconcelos
                   Antônio Xavier Pereira Sobral.
                   Manoel Alves de Oliveira
                   Manoel Gomes da Silva
                   Antônio Fernandes de Oliveira.
                   Antônio Matias de Lima
                   Joaquim Gregório Romero.

Receitas e despesas
        A receita no ano de 1906, foi de 14:182$00 e igualmente a despesa.
Agências dos correios e telégrafos
        O município possuía uma de cada.

Em 1910
        Três anos após a inauguração se dizia sobre Ceará-Mirim:
        A sua principal riqueza consistia na fabricação de açúcar, aguardente e nas culturas de milho, feijão, arroz, café, tabaco, etc.
      Sobre a cidade se dizia: “Esta pitoresca cidade que se acha edificada em dois bairros é de clima agradável, quer pelos ventos dominantes, quer pela proximidade do mar. Tem bons prédios, bonitas praças e avenidas” (ALMANAQUE LAEMMERT: ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL (RJ), 1910, p. 1010-1011),
       As coletorias estadual e federal já haviam sido instaladas. Possuía um jornal semanal, A Evolução, dirigido por Antônio Alves. Haviam duas bandas de música, a 12 de outubro, dirigida por Venerando Consentino e a 5 de maio, dirigida por Prisco Rocha.
     Naquele ano existiam, negociantes: 20. Advogados: 1. Barbeiros: 9. Carpinteiros: 4. Ferreiros e caldeireiros: 2. Funileiros: 2. Médico: 1. Mecânicos: 3. Pedreiros 2. Farmacêuticos: 3. Sapateiros: 1. Engenhos: 32. Agricultores e lavradores: 31. Capitalistas: 5.

A estação
        A estação da cidade de Ceará-Mirim foi inaugurada em 13 no km 39 da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. O prédio da estação foi desativado em 1997.Foi restaurado e atualmente abriga um centro cultural mantido pela prefeitura. Ao seu lado fica a estação terminal dos trens metropolitanos da CBTU construída em 1982.


Fonte: Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia (RN), 1906, p. 63-64. Almanaque Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ), 1910, p. 1010-1011.



[1] Presentemente Duas Passagens é distrito de Taipu.

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